A atleta ressalta que buscar ajuda profissional foi crucial para superar a ansiedade
Com 4 medalhas conquistadas nesta edição das Olímpiadas em Paris, Rebecca Andrade entrou para a história do esporte brasileiro. Por trás do seu sorriso carismático, existe um espírito resiliente e vencedor que vai além dos tablados, vitórias tão importantes quantos as medalhas, foi a superação das lesões ao longo de sua carreira, o equilíbrio mental e emocional para controlar a ansiedade e o medo.
Nascida em Guarulhos, estado de São Paulo, em 8 de maio de 1999, é uma dos sete filhos de Rosa Santos, mãe solo que trabalhava de empregada doméstica, de onde tirava o sustento para a família. Sua tia Cida era cozinheira no ginásio municipal Bonifácio Cardoso, onde a Prefeitura de Guarulhos possui um programa voltado para formação de novos ginastas. Sua tia costumava levar Rebeca para brincar, mas pediu para que um dos professores prestasse atenção na menina. Após algumas estrelinhas, a treinadora Mônica Barroso aprovou, começou aí, aos seis anos de idade a trajetória de uma campeã.
Porém, num país de desigualdades e poucas oportunidades, onde o pobre precisa fazer um esforço imensurável, não seria fácil conquistar o sonho. O dinheiro era limitado e contado, seu irmão Roger que ficou na responsabilidade de levar a pequena Rebeca aos treinos, com frequência não tinha dinheiro para o transporte coletivo, por isso, eles faziam uma caminhada que durava cerca de duas horas até o ginásio. Depois, comprou uma bicicleta para levá-la. “A mãe foi um fator chave na vida dela. Essa dificuldade de classe faz com que as pessoas superem esses desafios e isso foi muito importante na vida da Rebeca”, explica o técnico Oscar, conhecido apenas como Júnior ao jornal El País.
Quando Rebeca evoluiu para equipe de alto rendimento, demonstrando talento e potencial, obteve apoio dos técnicos comprometidos com o seu rendimento e performance, como o caso do próprio Junior que o acompanhou no torneio pan-americano em Cuba. A confiança no potencial da garota era tanto que os professores começaram a se revezar para levar e trazer a menina de casa.
Além destes problemas comuns num país com pouca inclusão social, onde as políticas públicas são ignoradas, Rebeca precisou enfrentar problemas consigo mesma, com o medo, desilusão, ansiedade e solidão nos momentos de recuperação. A ginasta já pensou em desistir quando se lesionou.
A primeira lesão veio em 2014, impedindo que ela participasse dos Jogos Olímpicos de Verão da Juventude na edição do mesmo ano. A outra lesão, desta vez mais grave, veio no ano seguinte, resultando no corte da sua participação do Pan-Americano de 2015. Em 2017, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito. Em 2019, pela terceira vez lesionou o ligamento e no ano seguinte, as competições foram prejudicadas devido a pandemia de COVID-19. Em entrevista ao programa “Mais Você”, a atleta Rebeca Andrade, de 25 anos, revelou que considerou abandonar a carreira, mas superou o medo da incerteza para retomar sua trajetória no esporte. Com o apoio da mãe e de sua psicóloga, Rebeca não apenas superou as lesões que a afastaram das competições, como hoje se destaca com seis medalhas olímpicas. Sua trajetória olímpica, somando um total de 6 medalhas, a coloca entre os maiores atletas do Brasil.