Quando a temporada de Fórmula 1 terminou no primeiro domingo de dezembro, muitos pilotos e equipes soltaram um suspiro de alívio.
Sim, havia sido mais uma exaustiva temporada de 24 corridas. O maior alívio, no entanto, estava na promessa de um novo começo em 2026.
Lando Norris ainda está saboreando sua primeira conquista de campeonato, mas seus rivais já estão planejando destroná-lo. Em 2026, pilotos e equipes terão a chance de se libertar de seus níveis de desempenho recentes. A Fórmula 1 está embarcando em sua mais significativa reformulação de regulamentos da história recente, introduzindo novos designs de carros e unidades de potência.
Os carros serão um pouco mais leves e estreitos que os desta geração, e dependerão mais de energia elétrica, passando de uma divisão de 80-20 entre o motor e o sistema híbrido para 50-50. Os carros usarão combustíveis totalmente sustentáveis, e a Pirelli fornecerá pneus mais estreitos. Não haverá uma única peça destes carros que será reaproveitada para 2026.
“Estou otimista porque é um recomeço”, disse Fernando Alonso, da Aston Martin. Sua equipe investiu e contratou profissionais pensando em 2026, após um período difícil nos últimos 18 meses. “Todos têm a chance de fazer um trabalho melhor do que os outros. Começaremos do zero, então isso é algo que sempre nos dá esperança.”
A atual hierarquia —McLaren, Mercedes, Ferrari e Red Bull, e depois todas as outras— provavelmente será alterada no próximo ano. A magnitude das mudanças levou todas as equipes a reduzirem o ritmo de desenvolvimento de seus carros este ano, sabendo que, no quarto e último ano do ciclo de regulamentos, os retornos dos investimentos em atualizações estavam diminuindo. Investir pesado desde o início no projeto de 2026 pode oferecer ganhos muito maiores.
Em 2014, a Mercedes desenvolveu a melhor unidade de potência para os novos regulamentos híbridos V-6 e iniciou uma sequência de oito títulos consecutivos de construtores, um recorde. Conquistou também sete títulos de pilotos nesse período, seis deles com Lewis Hamilton.
O reinado da Mercedes durou até a reformulação dos regulamentos em 2022, quando a Fórmula 1 fez grandes mudanças nos designs dos carros e adotou os regulamentos de efeito solo, onde túneis no assoalho dos carros são usados para gerar força aerodinâmica. A Mercedes foi destronada pela Red Bull, que atingiu novos patamares de domínio em 2023, vencendo 21 das 22 corridas. Agora, a McLaren ascendeu ao topo, culminando em uma dobradinha neste ano, a primeira desde 1998. A Fórmula 1 frequentemente opera em ciclos.
Ser o líder inicial em um desses ciclos pode ser crucial. Quem acertar no começo pode garantir uma vantagem que durará o ano todo e será difícil para o resto do grid superar.
“Por volta da sexta, sétima corrida, acho que teremos uma boa ideia de quais equipes estarão dominando pelos quatro anos seguintes”, disse Charles Leclerc, da Ferrari, após a corrida do fim de semana em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Leclerc e Alonso são apenas dois pilotos que têm muito em jogo em 2026. Alonso, de 44 anos, está na reta final de sua carreira na Fórmula 1, na qual conquistou dois títulos mundiais e por pouco não levou outros três. Ele é um dos grandes nomes do esporte, mas não vence um Grande Prêmio há 12 anos. A Aston Martin teve uma ascensão no início de 2023, chegando a figurar regularmente no pódio por um período, mas depois caiu para o pelotão intermediário. Terminou o ano em sétimo lugar no campeonato, com Alonso não conseguindo terminar nenhuma corrida acima da quinta posição.
A equipe contratou o projetista de carros mais bem-sucedido da Fórmula 1, Adrian Newey, que estava na Red Bull. Ele se tornará o chefe da equipe no próximo ano. A Aston Martin também será a parceira exclusiva da Honda no fornecimento de motores, o que pode ser uma grande vantagem.
Alonso afirmou que, se o carro da Aston Martin do próximo ano for bom e lhe der a chance de lutar pelo que deseja, este poderá ser seu último ano na Fórmula 1. É a grande chance da Aston Martin se recuperar da queda dos últimos dois anos.
Leclerc, de 28 anos, está em uma fase diferente de sua carreira na Fórmula 1. Ele sempre foi o coração da equipe Ferrari de Fórmula 1, sendo chamado de Il Predestinato, ou o Escolhido, por seus fãs, e sempre deu o seu máximo na pista pela equipe. Mas 2025 acabou sendo uma temporada frustrante para Leclerc, que não conseguiu vencer nenhuma corrida e frequentemente sofreu com a falta de ritmo do carro. Resultados como sua pole position na Hungria, ou mesmo sua brilhante corrida para o quarto lugar na final em Abu Dhabi, o deixaram perplexo.
“É agora ou nunca, então espero sinceramente que comecemos esta nova era com o pé direito, porque isso é importante para os próximos quatro anos”, disse Leclerc.
Todos os pilotos têm um nível semelhante de esperança para o próximo ano. Carlos Sainz e Alex Albon, dois pilotos que apostaram na recuperação da Williams liderada por James Vowles, querem ver o progresso da equipe continuar. Max Verstappen, que já não é o atual campeão mundial, precisa ver o que a Red Bull pode produzir para competir com a McLaren, enquanto também embarca em um novo projeto de unidade de potência com a Ford, e se isso será suficiente para ajudá-lo a recuperar sua coroa. A Mercedes quer reacender a magia de 2014 e finalmente dar a George Russell um carro capaz de competir pelo campeonato mundial.
A McLaren, agora a caçada em vez da caçadora, tem a difícil tarefa de defender títulos através de ciclos de regulamentos, algo que apenas a Mercedes (2016 a 2017) fez com sucesso. Ela completou uma recuperação impressionante, indo do último para o primeiro lugar em apenas alguns anos, mas não demonstra nenhuma intenção de ficar parada.
“Claro que eu adoraria correr com o carro que temos agora no próximo ano, mas não é disso que se trata a Fórmula 1”, disse Zak Brown, CEO da McLaren, em uma entrevista à Harvard Business Review. “Acho que minha equipe ficaria entediada se não tivéssemos algo novo para fazer. Estamos empolgados com os novos regulamentos. É certamente um grande desafio.”
A Cadillac, nova equipe da Fórmula 1, descobrirá quanto terreno tem que recuperar em relação ao grid estabelecido. Ela usará uma unidade de potência da Ferrari e começou a projetar seu carro antes mesmo de ter certeza de conseguir um lugar no grid. Chegar ao mesmo tempo em que os regulamentos mudam permitirá que trabalhe com a mesma folha em branco que todos os outros.
Este será um dos invernos mais curtos da Fórmula 1 nos últimos anos. Com tantas mudanças nos carros, a quantidade de testes de pré-temporada triplicou, passando de três para nove dias, começando com um teste a portas fechadas em Barcelona, na Espanha, no final de janeiro.
Isso antecipa o lançamento dos carros para meados de janeiro, com a Red Bull e a Racing Bulls sendo as primeiras a revelar seus modelos em 15 de janeiro.
O desafio da Fórmula 1 de 2026 não espera por ninguém. Por mais que Norris esteja curtindo seu novo status de campeão mundial de Fórmula 1, ele e a McLaren estarão pensando em como defenderão o título no ano que vem, o que será uma tarefa gigantesca, já que o jogo está mudando mais uma vez.
