Rahaman Ali, que abandonou sua própria carreira de boxe para se tornar motorista, parceiro de treino, assistente, cozinheiro e “cornerman” de seu irmão mais velho, Muhammad Ali, morreu na sexta-feira (1º). Ele tinha 82 anos.
A morte foi anunciada pelo Centro Muhammad Ali, um museu em Louisville, Kentucky, cidade natal dos irmãos. O comunicado não incluiu mais detalhes.
Nas décadas de 1960 e 1970, quando era considerado o boxeador mais empolgante do mundo, Muhammad Ali desenvolveu um considerável séquito de assistentes, amigos e agregados. O membro mais íntimo do círculo era Rahaman.
Descrito como o “melhor parceiro de treino” de Muhammad Ali pelo escritor Jonathan Eig na biografia “Muhammad Ali: Uma Vida” (2017), Rahaman o ajudou a se preparar para grandes lutas contra Archie Moore, Sonny Liston e Floyd Patterson.
Enquanto Muhammad trabalhava no saco de pancadas, Rahaman observava atentamente. Ele torcia do canto durante as lutas. Preparava o café da manhã conforme pedido. Muhammad não usava relógio, em vez disso, perguntava a hora a Rahaman.
“Os sonhos de seu irmão se tornaram seus sonhos, e os triunfos de seu irmão, seus triunfos”, escreveu o colunista esportivo Dick Schaap em 1975.
Rahaman Ali foi um promissor boxeador amador que venceu sua primeira luta profissional em um combate preliminar na mesma noite em que seu irmão derrotou Liston para se tornar campeão mundial dos pesos-pesados. Rahaman seguiu carreira obtendo um cartel mediano, com dez vitórias, três derrotas e um empate. Aposentou-se após um nocaute técnico em 1972.
Várias figuras da juventude dos irmãos disseram em entrevistas que Rahaman Ali era um lutador inteligente e receptivo a instruções, mas que lhe faltava o carisma de Muhammad. Quando um grupo de empresários de Louisville se reuniu para patrocinar Muhammad, então conhecido como Cassius Clay, Rahaman, então Rudy Clay, foi deixado fora do acordo. (Os dois irmãos mudaram seus nomes e se juntaram à Nação do Islã aproximadamente na mesma época, no início dos anos 1960.)
Muitos jornalistas testemunharam o que o jornal The New York Times chamou de “uma reprimenda pública” na preparação para a luta “Thrilla in Manila” de 1975 contra Joe Frazier. Rahaman Ali estava instruindo jornalistas a tomar notas enquanto Muhammad falava; então, Muhammad o repreendeu. “Você não diz a eles para escrever”, disse o campeão. “Eles podem ir embora, e eu ainda receberei meus milhões. É por isso que você nunca será como eu.”
Mais tarde, Rahaman minimizou o incidente em uma entrevista à United Press International.
“O que ele me disse foi justificado”, disse Rahaman. “Meu amor pelo meu irmão é infinito.”
No ano seguinte, Muhammad Ali disse ao Times que pagava a Rahaman um salário anual de US$ 50 mil, equivalente a cerca de US$ 280 mil (R$ 1,54 milhão) hoje.
Em 1990, falando ao The Courier-Journal, de Louisville, Rahaman Ali expressou arrependimento por não ter se concentrado em sua própria carreira de boxe.
“Muhammad nunca disse a mim: ‘Boa luta, boa luta, Rahaman’”, disse Rahaman. “Sinto que ele poderia ter voltado e me parabenizado.”
Rudolph Arnett Clay nasceu em 18 de julho de 1943, um ano e meio depois de seu irmão. Mais tarde, passou a se chamar Rudolph Valentino Clay. Seu pai, Cassius Sr., era pintor de placas. Sua mãe, Odessa (O’Grady) Clay, era cozinheira e faxineira.
Seus dois filhos dormiam lado a lado em camas de solteiro. Eles desenvolveram um jogo no qual Rudy ficava em uma casa adjacente, a dois metros de distância de sua casa, e atirava pedras em Cassius, que as desviava com habilidade.
No final da adolescência de Rudy, ele e seu irmão ainda eram “quase inseparáveis”, escreveu Eig, com os dois boxeando constantemente e compartilhando não apenas um quarto, mas também refeições e regimes de treinamento.
Posteriormente, Rahaman atuou como vendedor de eletrodomésticos e proprietário de restaurante e morou em Chicago e Cincinnati. Aos 60 anos, estava de volta a Louisville, vivendo em habitação pública. Foi casado várias vezes e teve duas filhas e um filho.