O que fez o Botafogo se não ser campeão do mundo na velha versão? Você terá razão se observar que Botafogo e Paris Saint-Germain não foi uma vitória do campeão da América contra o vencedor da Europa, como na antiga copa intercontinental.
Para isso, os botafoguenses teriam de ter vencido o Real Madrid, ganhador da Champions League de 2024, como o Botafogo fez na América na mesma temporada.
Verdade. Mas o que era o Mundial de Clubes no passado se não o encontro entre o último vencedor sul-americano contra o atual soberano europeu?
Se a Cidade Luz tem o campeão da Europa e a Cidade Maravilhosa o da América, a velha versão do Mundial retornou por uma noite maravilhosamente iluminada.
O botafoguense Hélio de la Peña comemorava seu 66º aniversário nas arquibancadas do Rose Bowl e logo explodiu a fúria das décadas de angústia alvinegra:
“Quero ver agora dizerem tudo o que diziam.” Acalmou-se ao ler que o Botafogo era campeão do mundo no modelo Copa Intercontinental: “Queria muito ler isto. Obrigado por enviar.”
O botafoguense é antes de tudo um forte. Passou 13 anos sem títulos entre 1935 e 1948, outros nove até 1957, quando Paulo Mendes Campos escreveu a crônica “O Botafogo e eu”, com a célebre frase “Há coisas que só acontecem ao Botafogo e a mim.” O texto foi publicado no dia seguinte à derrota para o Fluminense.
Um turno depois, uma goleada por 6 a 2 sobre o mesmo Flu deu o título carioca.
Não estamos mais falando sobre o Rio. É sobre o mundo. Há coisas boas que acontecem ao Botafogo, como ganhar a Libertadores jogando noventa minutos com um homem a menos ou quebrar o tabu de 13 anos sem um clube do Brasil vencer outro europeu.
O gol de Igor Jesus e a alegria, de Los Angeles ao Rio de Janeiro, causaram frisson também na Europa: “A queda de um pedestal”, escreveu o L’Equipe.
Um dia antes do sorteio dos grupos da Copa do Mundo de Clubes, o técnico campeão da Europa, Luis Enrique, perguntou à repórter Clara Albuquerque, correspondente brasileira em Paris: “Qual é o melhor time brasileiro?” Ao ouvir a resposta contendo o nome do Botafogo, afirmou: “Pois é o Botafogo que vamos pegar, não se preocupe. PSG e Botafogo é certo!”
Há coisas que só acontecem ao Paris Saint-Germain.
A vitória do Botafogo faz pensar sobre a ordem atual do futebol no mundo. Não parece ter mudado tanto nos últimos cinco dias. A Europa continua superior, por poder contratar os melhores jogadores do planeta, sem limite.
Os 11 titulares do PSG jogam em suas seleções nacionais e o Botafogo só escalou três convocáveis do Brasil e Savarino, da Venezuela.
O Botafogo venceu defendendo mais do que atacando, 24% de posse de bola e oito finalizações, contra 17 dos parisienses. Não se vence um europeu sem estratégia, diferentemente da época do Santos, de Pelé, Flamengo, de Zico, São Paulo, de Telê.
Continua sendo mais provável ver o Paris Saint-Germain nas semifinais do que Botafogo, Palmeiras, Flamengo ou Fluminense.
Mas a primeira semana de Mundial terminou com europeus, asiáticos e africanos com derrotas no currículo.
Sul-americanos, nenhuma, até Botafogo e PSG.