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Esporte

Polícia inglesa na defesa das corredoras – 15/08/2025 – Marina Izidro

Quem gritar uma gracinha para uma mulher correndo na rua na Inglaterra pode acabar na del

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Quem gritar uma gracinha para uma mulher correndo na rua na Inglaterra pode acabar na delegacia.

Durante um mês, policiais mulheres de Surrey, no sudoeste da país, começaram a correr à paisana em áreas identificadas como mais inseguras. Quando eram assediadas, o reforço policial aparecia na hora.

Uma agente disse que, uma vez, em menos de 10 minutos um motorista buzinou para ela. Apenas 30 segundos depois, outro carro diminuiu a velocidade, o camarada meteu a mão na buzina e fez um gesto obsceno.

Segundo a imprensa local, 18 homens foram presos por assédio ou agressão sexual. O chefe da operação disse que a ideia era punir, mas também fazê-los entender o quão desconfortável esta situação é para uma mulher.

O projeto-piloto chamou atenção para o bem e o mal. Quem criticou disse que esse não é o jeito mais eficiente de investir recursos da polícia, e que ele foca em casos individuais em vez de na origem do problema, mais profunda.

Fato é que qualquer mulher que corre já passou por uma situação desagradável. Seja ouvir uma bobagem ou, infelizmente, algo pior. “Corre com um grupo”; “não vai à noite”; “música e fones de ouvido distraem a atenção, é perigoso”; “compartilha a localização no celular” são algumas sugestões que a gente recebe. Nós é que temos que nos adaptar.

Eu já passei por algumas situações que me fizeram mudar meus hábitos de corrida. Há uns anos, em Londres, eu estava correndo à beira de um canal, em uma área urbana, perto de um parque grande. Quando olhei para o lado, vi, atrás de umas árvores, um homem com a calça arriada, se tocando. O olhar dele, por uma fração de segundo, cruzou com o meu. Pensei em procurar a polícia, mas só queria sair o mais rápido possível dali. Fiquei sem ação também por ter acontecido em uma região movimentada, em um sábado e onde, no mesmo caminho, passavam idosos, famílias. No fim de semana seguinte, vi outro homem fazendo o mesmo ato obsceno, no mesmo lugar. Eram claramente criminosos. Não passei mais por lá, e aquelas cenas nunca saíram da minha cabeça.

Minhas estratégias para correr na rua podem incluir dar preferência a uma rota que tenha outras pessoas; se estou em um lugar que não conheço, o caminho fica mais escuro e fechado pelas árvores, ou entro em uma rua sem saída, eu volto. Se passo perto de arbustos mais altos em uma área deserta, talvez eu dê uma espiada para checar que não tem ninguém ali, e abaixo o volume da música.

Em 2023, uma pesquisa da Adidas feita em nove países, incluindo o Reino Unido, revelou que 92% das 4.500 mulheres entrevistadas se preocupavam com a própria segurança ao saírem para correr.

A campanha em Surrey começou depois que o governo descobriu que 94% das moradoras disseram já ter sofrido alguma forma de assédio, mas metade nunca havia reportado.

Na maioria das vezes, deixamos para lá mesmo, seja por desconhecimento, achar que não vai dar em nada, evitar exposição, ou porque não queremos estragar ainda mais o nosso dia.

O assédio não vai acabar e temos, sim, que seguir em frente. Saber o que a polícia inglesa está fazendo me traz uma sensação de acolhimento ao ver que as autoridades se importam e, ao mesmo tempo, frustração, por até hoje termos que falar sobre isso.


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