terça-feira 1, julho, 2025 - 23:02

Esporte

O pachequismo de um jornalista brasileiro em Wimbledon – 01/07/2025 – No Corre

O desempenho dos times brasileiros na Copa do Mundo de Clubes da Fifa tem servido de mús

image_printImprimir


O desempenho dos times brasileiros na Copa do Mundo de Clubes da Fifa tem servido de música incidental para uma discussão acalorada e muito chata, mas ao mesmo tempo bastante contemporânea, sobre o papel do jornalista esportivo.

Alguns colegas do jornalismo, vá lá, “old school”, parecem se sentir na obrigação de afirmar a todo instante sua objetividade –o “Jornalismo Futebol Clube”, como diria Roberto Avallone– diante da conduta nada neutra dos que trabalham para perfis do YouTube. Isso para não falar dos profissionais a soldo dos canais oficiais dos clubes, algo que não existia nos tempos do Avallone.

(É bem verdade que sempre existiu o jornalista-torcedor-fanático, constantemente a exacerbar um personagem construído artificialmente, em busca de audiência. O próprio Avallone, que pilotou por tantos anos uma resenha esportiva dominical na TV, sempre se cercou dessas figuras caricatas e, embora perto delas parecesse um sujeito quase blasé, um primor de distanciamento, Avallone era satirizado por supostamente privilegiar seu time do coração nas horas sem fim do programa. “No primeiro bloco, Palmeiras; no segundo bloco, Palmeiras; no terceiro bloco, Palmeiras; no quarto bloco, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos…”)

Digo tudo isso porque lembrei-me do meu próprio pachequismo ao cobrir para o UOL dois torneios de tênis de Wimbledon, em 1999 e 2000 –pois é.

A coisa se manifestava nos jogos do Guga. Em 1999, já uma vez vencedor de Roland Garros, o catarinense foi longe para quem jamais havia vencido na grama. Ele chegou às quartas de final, eliminado pelo estadunidense Andre Agassi (que perderia a final para o então pentacampeão, seu compatriota Pete “Pistol” Sampras).

Nas quatro vitórias anteriores do Guga, minha incorreção aparecia em horas francamente contrárias à ética do tênis (e do jornalismo): durante os jogos. Não me lembro de ter xingado a arbitragem, mas de ter falado bem alto, e mais de uma vez, “let’s see better” para o juiz de linha após uma decisão não tão polêmica.

Nota de rodapé: eu já tinha atravessado as normas de conduta antes, ao perguntar a Sampras, após um treino, se ele venceria novamente o campeonato. Jornalista nenhum abordava os tenistas, nem mesmo um supercampeão como Sampras, fora do ambiente estrito e controlado da entrevista coletiva. A meu favor, informo que eu ainda não sabia disso. Sampras apenas disse: “No comments”.

Curiosamente, nas coletivas e nos textos que eu escrevia para o UOL, não amaciava para o Guga. Apesar da esquerda formidável, sempre o achei deficiente em golpes como “smash” e “lob” –cheguei mesmo a perguntar a ele por que não aplicava “lobs”.

Em 2000, o anticlímax foi total: recém-consagrado bicampeão de Roland Garros, ele chegou à terceira rodada de Wimbledon contra o 114º do mundo, o alemão Alexander Popp. Depois de ter perdido no tie-break o primeiro set, ficou mais apático do que o caipira picando fumo do quadro do Almeida Júnior. Ele alegou padecer de um incômodo causado por um resfriado e foi presa fácil daí em diante, entregando bovinamente dois sets: 6 a 2 e 6 a 1.

Moral da história: daria todas as minhas letras de crédito imobiliário e do agronegócio novamente livres de IOF para estar neste exato momento em Wimbledon, mas, vendo a mim mesmo durante as transmissões de jogos do João Fonseca ao longo deste ano, admito que o torneio londrino ganha com a minha ausência.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Fonte da Notícia

Leave A Comment