O “até ontem” do subtítulo é força de expressão, porque Mino Carta cobriu-se de glórias definitivamente no último dia 2, como esta Folha, justa e dignamente, registrou na Primeira Página e em belo obituário, apesar das críticas de Mino ao jornal, nem sempre justas e muitas vezes exageradas.
Porque ele era permanentemente exagerado em suas batalhas.
Se alguém quisesse comprar briga fácil com Mino bastava dizer que a derrota brasileira em Sarriá, Barcelona, 5 de julho de 1982, tinha sido injusta.
Mino subia nas tamancas —que não usava, elegante como era— e cravava na cara do provocador, no mínimo, o carimbo de não entender nada de futebol.
Sou testemunha disso. Melhor, ou pior, fui vítima disso.
Sim, um belo dia, na verdade numa noite de quinta-feira no então requintado restaurante Massimo, na paulistana alameda Santos, ali pelo fim da década dos 80, cai na asneira de dizer ter sido imerecida a vitória italiana.
Ele estava em jornada bem-humorada e, em vez de me xingar, apesar de se dizer decepcionado porque imaginava que o diretor de Placar entendesse de bola, convidou-me para rever o jogo, coisa que eu já havia feito na semana mesmo da derrota.
Acrescentou que faria uma massa e ofereceria um bom vinho tão logo acabássemos de ver o que ficou conhecido no Brasil como a “Tragédia de Sarriá”, verdadeiro Maracanazo para toda uma geração nascida depois de 1950.
Mino além de escrever como poucos, pintar muito bem, cozinhava admiravelmente e, claro, achava que tinha talento para o tênis e conhecia muito sobre futebol, que amava.
Lá fui eu ao seu apartamento na semana seguinte.
Mino tinha uma fita cassete com os 90 minutos do 3 a 2, e o que nós vimos, eu com distanciamento inimaginável à época do clássico, de fato, foi um resultado justo, em jogaço, repleto de alternativas e com o famoso pênalti de Gentile em Zico, a ponto de rasgar a camisa do Galinho, não marcado pelo árbitro israelense Abraham Klein.
Humildemente reconheci não ter havido injustiça, embora ponderasse que a ótima seleção italiana, se jogasse dez vezes com a extraordinária equipe brasileira, perderia oito vezes, empataria uma, com o que seria eliminada, e ganharia uma, aquela, naquela fatídica data.
Mino não me disse poucas e boas porque eu estava na casa dele, mas ficou agradecido quando leu coluna minha reconhecendo que, naquela tarde, e só naquela tarde, a Itália tinha sido melhor.
Brabas x Cabulosas
Ficou tudo para o domingo (14), às 10h30, em Itaquera, na decisão do Brasileirão.
Com quase 20 mil torcedores, recorde de público em jogos de clubes no futebol de mulheres em Minas Gerais, no Horto, Cruzeiro e Corinthians empataram numa partida em que a goleira Camila, das Cabulosas, brilhou, e a das Brabas, Nicole, entregou o gol do 1 a 1.
A vantagem corintiana agora se limita a jogar como mandante, e provavelmente diante de bem mais que 20 mil pessoas.
Nada que assuste as Cabulosas, tudo que estimula as Brabas.
O Corinthians foi ligeiramente melhor em Belo Horizonte, até mereceu vencer e acabou duplamente castigado pelo gol que decretou o 2 a 2, da ex-alvinegra Isabela, a quem o Corinthians deve dinheiro de premiações e salários.
Que vergonha!