O 0 a 0 costuma ser um resultado frustrante no futebol.
Ele ocorrendo na abertura do 1º Supermundial de clubes –que aqui no Brasil está sendo chamado de Copa do Mundo de Clubes e que a Fifa continua a chamar de Mundial de Clubes–, ganha uma dimensão negativa um tanto pior.
(Supermundial, escrevo eu, porque, pela primeira vez, nos moldes da Copa do Mundo de seleções disputada de 1998 a 2022, com 32 participantes; o Mundial de Clubes da Fifa mais recente, realizado em 2023, teve sete equipes.)
Para a história, será sempre um 0 a 0. Mas que a história não seja injusta e registre que o jogo disputado na Flórida no dia 14 de junho de 2025, entre Inter Miami e Al Ahly, do Egito, foi muito bom para quem aprecia não só gols.
A dinâmica da partida agradou, e os adversários proporcionaram um bom espetáculo para os 60.927 espectadores –a maior parte parecia torcer para os egípcios– que estiveram no Hard Rock Stadium, em Miami Gardens, e também para quem viu o duelo na TV (ou no computador, ou no celular).
No confronto que tinha de um lado uma equipe fundada há apenas sete anos, estrelada pelos craques Messi e Suárez, e do outro um time centenário (é de 1907) e maior ganhador da Champions da África (12 títulos, e por isso chamado de “o Real Madrid africano”), os goleiros brilharam.
No primeiro tempo, quem fechou o gol foi o argentino Ustari, do Inter Miami, que defendeu chute cara a cara, cabeçada à queima-roupa e até pênalti, batido com força por Trézéguet. Defesas dificílimas, especialmente a finalização de cabeça.
No segundo tempo, a equipe que jogava em casa melhorou muito, e quem trabalhou foi El Shenawy, goleiro da seleção egípcia (64 jogos desde 2018) e capitão do Al Ahly.
Foram quatro defesas “impossíveis”: chute cara a cara, cabeçada à queima-roupa (defendida com a testa), outra cabeçada de curta distância, de Fafà Picault (o lance me lembrou Pelé e Gordon Banks na Copa do Mundo de 1970), e um chute de fora da área e de curva, por cobertura, de Messi, em que houve ainda ajuda da trave –este seria um golaço do oito vezes melhor do mundo.
Detalhe para a idade de cada um.
Ustari, campeão olímpico em Pequim-2008 (num supertime que tinha Messi, Di María, Riquelme e Mascherano, que é o atual treinador do Inter Miami), tem 38 anos. El Shenawy está com 36.
Ambos veteranos e com reflexos de dar inveja a muito goleiro de 20 anos.
O mais importante aqui é a equipe, não ser o herói
Assim, não fossem essas intervenções –houve outras não tão complicadas, de ambos os lados–, o placar teria sido Inter Miami 4 x 3 Al Ahly, de virada, para delírio dos entusiastas da bola na rede, ou seja, de todos nós.
Ressalte-se que os dois rivais, que ainda vão enfrentar o Palmeiras no Supermundial, tentaram insistentemente sair do zero.
De acordo com a Fifa, o Inter Miami finalizou 15 vezes (7 no gol), e o Al Ahly, 10 (8 no gol, impressionantes 80% de mira precisa). Somadas, 25 tentativas, mais que o número total de faltas, 21, o que fortalece a impressão de uma partida bacana.
Mas, apesar de os ataques tentarem e tentarem, a noite quente e úmida (mas sem chuva) na Grande Miami foi dos goleiros, e a rede só balançou quando Messi cobrou uma falta em que a bola tocou nela pelo lado de fora e quando o vento brando primaveril do hemisfério Norte deu o ar de sua graça.