Popular e temido, o “grupo da morte” da Copa do Mundo morreu.
O sorteio realizado do Kennedy Center, em Washington (EUA), tratou de enterrar uma tradição.
Seria preciso uma combinação específica, matematicamente improvável, para a sua sobrevivência.
O Brasil, por exemplo, ser emparelhado via pote 2 com Marrocos (até foi), via pote 3 com a Noruega (parecia que seria, mas não foi, deu Escócia) e via pote 4 com a Itália (que está na repescagem e pode nem participar da Copa na América do Norte) –saiu a bolinha do inofensivo Haiti.
O fim do “grupo da morte” é culpa essencialmente do inchaço da Copa de 2026 para 48 seleções –antes eram 32–, artifício da Fifa para dar oportunidade a mais países de participar do evento esportivo de maior audiência no mundo.
Legal a Fifa, democrática, né?
Só que não: as razões são primordialmente financeiras e políticas, as quais a entidade tenta ocultar com discurso de “inclusão” e “desenvolvimento”. Enquanto isso, o nível técnico vai para o buraco.
Que é para onde foi o “grupo da morte”.
A constatação do óbito decepcionou este jornalista, que, ao olhar para os 12 grupos para eleger o seu, viu que não tinha nenhum.
Conceituando o “grupo da morte”, é aquele em que, sorteados quatro países que se enfrentarão na primeira fase, seleções fortes e/ou afamadas e/ou tradicionais se encontram, sendo que alguma delas não conseguirá ir adiante, eliminada.
Exemplo fácil de lembrar: Itália, Inglaterra e Uruguai, todos campeões mundiais, no mesmo grupo na Copa de 2014, no Brasil. Daquela vez, a “morte” precoce chegou para não só um deles, mas para dois. Italianos e ingleses sucumbiram, surpreendidos pela zebra Costa Rica.
Com o formato de duas vagas por grupo para os mata-matas, o risco, a depender do sorteio, passava a ser real para um ou outro favorito.
Isso acabou. Agora, mais equipes se qualificam para os jogos eliminatórios (32 das 48). Passam de fase os dois primeiros países de cada um dos 12 grupos e ainda os oito melhores terceiros colocados.
Para ficar fora, uma seleção boa tem que ficar ruim do dia para a noite. Até pode, mas não costuma acontecer.
A seleção que ganhar um de três jogos (ou empatar três), é muito provável que vá em frente na Copa. Talvez até com dois empates e uma derrota dê para prosseguir.
É a institucionalização da moleza para os grandes na etapa de grupos.
Ou dá para imaginar que a Argentina de Messi, atual campeã mundial e segunda do ranking da Fifa (atrás da Espanha), não ganhe da Áustria (24ª), nem da Argélia (35ª), nem da estreante Jordânia (66ª)? Uma vitória basta.
Há quem tente não considerar morto o morto. Leio em outro jornal que “França, Senegal e Noruega formam ‘grupo da morte'”. Esqueceram o quarto elemento, que será fragilíssimo: Bolívia, Iraque ou Suriname. Uma vitória basta.
Finado o “grupo da morte”, estabelecem-se os “grupos da vida”. Todos. Por um lado, encontrando algo positivo, é até salutar, já que a terceira e última rodada de cada um, do A ao L, oferecerá chance aos participantes, sem exceção. Ninguém estará eliminado. Vivos. Todos.
A esperança, que é “a última que morre”, mas que antes morria para alguns antes do terceiro jogo, morrerá mais do que nunca, a partir da primeira Copa do Mundo avolumada, por último.

