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Esporte

Como se não fosse com a gente – 04/08/2025 – No Corre

No livro “Nós Somos o Clima“, o escritor estadunidense Jonathan Safran Foer

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No livro “Nós Somos o Clima“, o escritor estadunidense Jonathan Safran Foer lembra exemplos de como a população dos Estados Unidos se engajou em ações voluntárias durante a Segunda Guerra.

Como apagar as luzes de casa à noite, algo que só era exigido de moradores de certas cidades portuárias, para tornar mais difícil a vida dos submarinos alemães, notórios afundadores de navios inimigos.

Nem seria preciso ir tão longe. No Brasil, campanhas de financiamento como a “Ouro para o Bem de São Paulo”, para custear a resistência dos paulistas durante a Revolução Constitucionalista de 1932, foram bem-sucedidas.

Mas o exemplo de Foer é interessante: ele o utiliza logo no começo do livro para mostrar que, apesar de andarmos no limiar do ponto de não retorno do apocalipse climático, nós (nós = eu, você, nossos filhos etc.) não nos engajamos, não apagamos nossas luzes para reverter ou adiar o colapso ambiental da Terra.

Não nos vemos em guerra, eis o ponto de Foer.

Hoje, e apesar da COP30 no Brasil, o risco do aquecimento global até parece estar démodé. Cada vez soa mais quimérico contar com o concurso de pessoas mesmo numa modesta sexta-feira sem carro. Exceto por questões financeiras (estacionamento caro, congestionamento, multas), nego não abandona o transporte individual.

Há adeptos da corrida, para ficar neste metiê, que não apenas não se incomodam em se servir do carro para dirigirem-se ao local de treino como nem pensam no assunto. E não seria difícil incluir no cascalho o deslocamento até o parque. Pelo contrário, funcionaria como aquecimento ou variação de estímulo.

Em algum momento da pandemia, acreditamos que certas mudanças forçadas de hábito seriam adotadas permanentemente. Sonhou-se com o trabalho remoto e o fim do trânsito carregado, por exemplo.

Nem mesmo a visão da bicicleta como player de transporte medrou.

Em São Paulo, a prefeitura, reativa como é, vive a refutar as queixas dos ciclistas e a dizer que amplia a malha cicloviária, plano que, de qualquer forma, está aquém do previamente estabelecido.

Mas não adianta só protestar contra o poder público, embora ele se ausente em planejamento, consecução e fiscalização: motoqueiros se servem das ciclofaixas sem pensar duas vezes e motoristas estacionam seus carros nelas.

Num recente pedal de sábado pelo Rio Pequeno, a fim de comer a gloriosa feijoada do Tempero do Zeca, tive de sair várias vezes das ciclofaixas das avenidas Otacílio Tomanik e José Joaquim Seabra.

Pode-se argumentar que a principal contribuição do Brasil para o aquecimento global não vem do transporte, mas das mudanças de uso do solo —ou seja, desmatamento para criação de pastos. Mas renunciar ao consumo frequente de carne bovina, algo perfeitamente possível e em boa medida saudável, também vai ficando quimérico —não bastasse todo o estímulo publicitário da indústria, cortes como a picanha tornaram-se moeda eleitoral.

Não queria soar tão apocalíptico, mas como me disse um amigo que recentemente terminou seu primeiro romance, o texto às vezes ganha vida própria, (quase) a despeito da vontade do autor. Às favas com o estilo, então, e talvez o panfletário seja mesmo mais adequado, por sua força de mobilização.

Já que nada fazemos para evitar nossa derrocada, não conseguimos diminuir minimamente nossos hábitos de consumo, a Zé Ruela o que é de Zé Ruela.


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