“A vigília tem-se mantido desprotegida mesmo debaixo desta câmara”, afirmou Isabel Oliveira.
Na semana passada, Isabel Oliveira foi expulsa da Assembleia Municipal enquanto abordava os ataques que, alegadamente, os manifestantes pró-Palestina têm sido alvo na cidade, tecendo críticas à posição do município do Porto nesta matéria, o que não agradou alguns deputados.
Depois de solicitar que terminasse o seu discurso, e por não o fazer, o presidente da Assembleia, Sebastião Feyo de Azevedo, pediu à Polícia Municipal para retirar a cidadã da sala.
Isabel Oliveira voltou à Assembleia Municipal do Porto, que decorreu na segunda-feira à noite, para reiterar a sua inquietude e denunciar que, até ao momento, “não se visionaram polícias” nas vigílias realizadas em solidariedade com a Palestina.
A cidadã elencou alguns dos episódios que alegadamente terão ocorrido nas vigílias, como a presença de carros nas proximidades e de indivíduos infiltrados que filmam e fotografam os participantes.
“Assusta saber que a PSP nega ter queixas de lesados quando elas existem e se multiplicam”, acrescentou.
Isabel Oliveira saudou ainda a decisão do executivo de projetar as cores das bandeiras da Palestina e do Líbano na fachada do edifício dos Paços do Concelho, mas considerou que a medida “chega tarde e não é suficiente”.
“No momento em que milhares de vidas estão em risco precisamos de mais do que símbolos”, referiu, dizendo que o executivo “ainda tem a possibilidade de se posicionar do lado certo da história”.
Depois de concluída a intervenção, o deputado José Maria Montenegro, do movimento independente, saudou o momento, considerando que a opinião da cidadã foi exposta “com toda a liberdade e dignidade”.
Já pela CDU, Rui Sá afirmou que a intervenção “foi feita com a mesma urbanidade e sem qualquer interrupção” e, pelo PS, Agostinho Sousa Pinto salientou que se o ocorrido na semana passada servir de exemplo “valeu a pena porque toda a gente a conseguiu ouvir”.
Pelo Chega, Jerónimo Fernandes considerou que “os cidadãos também aprendem e a cidadã também aprendeu”.
Na sexta-feira, quatro dias depois do sucedido, o BE e o PS condenaram, em comunicado, a atitude do presidente da Assembleia Municipal e a expulsão de uma cidadã, considerando que Sebastião Feyo teve uma “atitude antidemocrática e atentatória da liberdade dos cidadãos” e que o episódio foi “incompatível com o quadro democrático”, respetivamente.
No mesmo dia, a Lusa tentou obter uma reação do presidente da Assembleia Municipal que, “por se encontrar na qualidade de presidente da AM num evento com o primeiro-ministro” declarou não ter “nenhum comentário a fazer”.
Contactada pela Lusa, a Câmara do Porto remeteu uma declaração de Feyo de Azevedo segundo o qual o comunicado do BE omitia “vários aspetos relevantes dos acontecimentos ocorridos em 18/11/2024 e põe em evidência, de forma distorcida, alguns outros factos”.
O Coletivo pela Libertação da Palestina (CLP), que em outubro de 2023 começou uma vigília diária em solidariedade com o povo palestiniano em frente ao edifício da Câmara do Porto, denunciou, num comunicado enviado no dia 15 de novembro, a “total impunidade com que operam grupos organizados que tentam aterrorizar e negar os direitos constitucionais de reunião e expressão”.
“Apesar de as forças policiais terem sido chamadas quase uma dezena de vezes, limitam-se a tomar nota do ocorrido sem reforçarem, de forma consistente, a sua presença na área, nem tomar nenhum tipo de medidas em relação aos agressores”, sublinha a nota de imprensa do CLP que inclui um vídeo alegadamente feito na véspera e onde quatro supostos israelitas ameaçam o grupo pró-Palestina reunido diante da câmara.