Com a popularização do fisiculturismo e de todo o mercado ‘fitness’ no Brasil, há diversas discussões que colocam os atletas de outras gerações contra os competidores atuais. Para Renato Cariani, “a grande mudança do ‘old school’ para o ‘new school’ é que, antes, os fisiculturistas estavam no esporte por amor”.
Em entrevista exclusiva ao blog Músculo, da Folha de S. Paulo, o fisiculturista profissional, químico, influenciador digital, educador físico e empresário explica que, na época em que começou a competir, praticamente não havia retorno financeiro: “No início dos anos 2000, as empresas davam aos atletas um saco de proteína em pó como premiação por terem ganho um campeonato. Nós, dessa época, fazíamos aquilo por paixão”.
“Hoje, com as redes sociais e com o volume de empresas que investem pesadamente no meio ‘fitness’, muitos já não fazem por paixão, e sim pelo retorno financeiro”, completa Cariani.
Segundo o atleta, os fisiculturistas brasileiros das décadas passadas precisavam aliar o esporte a trabalhos e rotinas convencionais, o que demonstrava que eles eram apaixonados pela modalidade.
Ainda de acordo com o profissional, entretanto, esse cenário não mudou completamente: “Depois da minha primeira competição, eu fui trabalhar a semana inteira cheio de tinta. Hoje, o cara virou profissional e já quer viver exclusivamente do esporte, patrocínios, mas não é bem assim. Patrocínio é para a minoria. A maioria dos atletas profissionais vai ter que continuar trabalhando em outra área até vencer um campeonato importante, e olhe lá. Às vezes, o atleta é bom, mas não tem as redes sociais ativas, não sabe vender os produtos das marcas… Antigamente, era só amor. Não que hoje não tenha, mas muitos não estão nesse meio pelo amor, e sim pelo dinheiro”.
Cariani também interpreta que “o crescimento do fisiculturismo no Brasil está 100% ligado às redes sociais”, pois essas plataformas “se tornaram um canal de motivação, ensinamento e inspiração para as pessoas”.
“O número de influenciadores digitais cresceu dessa maneira porque as pessoas compram o estilo de vida saudável. Às vezes, a pessoa está lutando para emagrecer, mas o ambiente todo luta contra isso. Os amigos só chamam para o bar, a família só se reúne para comer. Ele leva a marmita dele e é zoado: ‘nunca vai conseguir’, ‘virou maromba?!’, ‘olha o cheiro de ovo que está aqui’… ou seja: o ambiente não é positivo para o emagrecimento. Só que aí essa pessoa entra no YouTube, por exemplo, e vê meus vídeos ajudando a galera a perder peso, a construir massa muscular. Ao mesmo tempo, ele vê meus compromissos profissionais, familiares, vê o meu cuidado com a minha vida além do fitness. Aí ele pensa: ‘esse cara consegue fazer dieta e treinar sem deixar de lado todo o resto’. Isso ajuda a pessoa a ficar motivada a mudar seu estilo de vida. Nosso principal foco é a construção de ambiente, até porque, muitas vezes, esse aqui é o único ambiente saudável – no que tange a esse assunto – ao qual a pessoa tem acesso”, complementa.
Por fim, o profissional garante que “o crescimento do esporte é benéfico para todo mundo porque, hoje, um bom atleta pode ter um reconhecimento melhor. Só que existe um efeito colateral dessa mídia (…) o número um vai ganhar dinheiro independentemente das mídias. Atletas de topo, como o Messi, por exemplo, não precisam ser grandes comunicadores – acho que nem consigo reconhecer a voz do Messi. Mas eles são exceção. O espaço sempre vai existir para o número um. Do dois para baixo, ele precisa se desenvolver nessa outra área”.