Brasil e Maracanã tinham uma relação mais próxima até o dia 3 de setembro de 1989, quando a seleção enfrentou o Chile em jogo marcado pela cena do goleiro Rojas, que forjou —soube-se depois— ferimentos causados por um rojão atirado por uma torcedora.
A vitória de 3 a 0 do Brasil contra o Chile, nesta quinta-feira (4), pelas Eliminatórias da Copa de 2026, foi a 14º partida da seleção masculina de futebol no Maracanã desde o episódio Rojas —e exatos 36 anos depois. O jogo só aconteceu no estádio porque Carlo Ancelotti pediu à CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Estevão, Lucas Paquetá e Bruno Guimarães marcaram os gols da tranquila vitória por 3 a 0.
Foi a primeira vez do italiano no Maracanã, e sua terceira à frente da equipe verde e amarela.
Ancelotti vive no Rio de Janeiro desde que foi contratado pela CBF, em maio, e tem acompanhado os times brasileiros nos estádios da cidade. Foi ao Maracanã duas vezes e assistiu a vitórias do Flamengo pela Libertadores, com arquibancadas lotadas.
As duas visitas do treinador ao Maracanã, em maio e agosto, pararam os corredores internos do estádio, com filas de vigilantes o protegendo da aproximação de torcedores.
Ele encontrou um estádio sem empolgação nesta quinta. Contido, o treinador alternou braços cruzados e mãos nos bolsos do paletó. Foi tietado pelo público mais próximo ao banco de reservas, mas nem ele, nem os titulares tiveram nomes gritados. Exceções foram Luiz Henrique, ex-Botafogo, e Lucas Paquetá, ex-Flamengo, que entraram no segundo tempo.
O Maracanã teve público de 57.326 pessoas, para uma renda de R$ 9,3 milhões.
Torcedores ensaiaram alguma reclamação durante o primeiro tempo. O gol de Estêvão aplacou os ruídos, mas o público demonstrou frieza durante boa parte do jogo. Ainda assim, a noite agradou Ancelotti.
“Dentro do Maracanã o ambiente era muito bom, muito carinho ao time, que teve intensidade, bom ritmo, boa defesa e pressão. Acho que o torcedor está contente”, afirmou Ancelotti, que tem demonstrado esforço para falar em português.
Na década de 1980 o Brasil atuou 14 vezes no Maracanã —três jogos foram pela Copa América de 1989. A partida do “caso Rojas” foi a última daquele período.
O distanciamento do Brasil com o Maracanã não tem relação com o episódio do goleiro chileno. Ilustra a nova era da seleção a partir da década de 1990, com mais jogos no fora do país, mesmo como mandante.
As 14 visitas a partir da década de 1990 foram mais em momentos de desconfiança da torcida do que de otimismo. O Maracanã foi panela de pressão para o time de Carlos Alberto Parreira, em 1993, que se classificou para a Copa com gols de Romário na última rodada das Eliminatórias, contra o Uruguai.
Recentemente, a desconfiança pairou sobre Tite, em 2021, ao perder a final da Copa América para a Argentina durante a pandemia —não havia torcida— e Fernando Diniz, em 2023. O jogo dele no estádio foi uma derrota para a Argentina, 1 a 0 marcado por pancadaria na arquibancada.
Foram melhores o Brasil de Luis Felipe Scolari, que conquistou a Copa das Confederações no Maracanã, em 2013, e o de Tite, que venceu o Chile nas Eliminatórias da Copa de 2022.
Alguns remanescentes daquele jogo podem soar como bom palpite do que o italiano considera a espinha dorsal da equipe.
Alisson, Marquinhos, Bruno Guimarães, Lucas Paquetá, e Gabriel Martinelli estavam em 2022 e nesta quinta, e juntos com Vinicius Júnior parecem ter vagas encaminhadas à Copa.
Casemiro e Richarlison deixaram de ser convocados após a Copa de 2022, mas voltaram a figurar nas convocações com Ancelotti, que os têm como homens de confiança.
A seleção brasileira não tomou gol nas três partidas sob o comando de Ancelotti.
“O futebol moderno está na mão dos jogadores de frente. Se trabalham bem, a equipe defende bem”, afirmou. “Estou certo de que essa equipe vai competir com todas as outras”.
Ancelotti entende que a concorrência na seleção brasileira é muito grande, com pelo menos 70 jogadores com potencial para defendê-la.
“Com tantas opções, estou certo de que fazer uma lista com 25, ou 26 nomes, é muito complicado. Pode ser que outro treinador tenha menos dificuldade do que eu. Mas isso é positivo”