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Esporte

A arte de desistir – 13/10/2025 – No Corre

O médico, escritor e colunista desta Folha Drauzio Varella viveu recentemente sua primei

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O médico, escritor e colunista desta Folha Drauzio Varella viveu recentemente sua primeira desistência numa maratona. Aos 82 anos, ele escolheu Berlim como a prova do ano, sua 26ª maratona. Sentiu uma dor articular no km 25, percorreu mais cinco quilômetros e receando piorar o quadro e ter uma sequela que “acabasse com sua carreira” corredora, parou.

Seu relato na Folha foi objetivo, como de costume, e os leitores parabenizaram-no pela decisão. João Lourenço dos Anjos, por exemplo, disse que “em qualquer esporte ou idade é importante saber e respeitar seu próprio limite”.

Num vídeo postado nas redes sociais, Drauzio foi mais eloquente. “Muito ruim você tomar essa decisão. Eu não vim aqui [a Berlim] para correr 30 km, vim para correr 42. Em maratona, se você parar no 30 ou no 5 dá na mesma.”

Mesmo para um médico, e mesmo para alguém que já se via colocando uma “prótese na cabeça do fêmur”, não foi uma decisão fácil, como nunca é quando se está numa dessas provas que os treinadores chamam de “alvo”, é precedida por semanas de treinos e, como no caso de Drauzio, envolvia ainda a presença in loco de netas e de um pequeno séquito de produtores de conteúdo.

Há um imaginário na corrida amadora, quem sabe importado do esporte de alto rendimento, que torna essa decisão parecida com a confissão de um rematado fracasso. Coisa de perdedor, vira-lata, loser.

Diferentemente, o treinador Ademir Paulino, que mantém uma assessoria de corrida em São Paulo, enxerga “maturidade” na decisão de Drauzio.

Ademir, ex-campeão mundial de aquathlon (biatlo com natação e corrida), abortou uma viagem já financiada para Auckland, na Nova Zelândia, para disputar outro campeonato mundial após sentir uma lesão num tornozelo que poderia talvez se agravar.

Como professor ele nem sempre consegue transferir essa prudência. Em desacordo com sua orientação, uma de suas alunas chegou a disputar uma maratona com um pé recém-fraturado.

“Há muita pressão nas redes sociais, ela queria se dizer maratonista, levou o robofoot na viagem, caminhou uma barbaridade na prova, terminou em mais de seis horas, mas conseguiu.” O custo da aventura foi ficar um ano inteiro longe do cascalho.

Ademir, que falou com a coluna de Chicago, para onde levou 25 alunos para a maratona disputada neste domingo (12), diz que falta aos brasileiros a consistência que ele viu em muitos corredores amadores na prova, que fizeram tempos dignos de profissionais. “A gente não consegue ter essa entrega. Na hora em que é preciso intensificar os treinamentos, o pessoal falta uma semana, viaja, prefere frequentar eventos sociais.”

O homem-maratona Nilson Lima, 72 anos e 416 maratonas e ultras no currículo –a última feita há oito dias em Skopje, na Macedônia do Norte–, jamais abandonou uma prova já começada. Mas já deixou de correr.

Em Boston, em 2021, ele diz ter vivido seu maior pesadelo na maratona do Rio Charles, também disputada por este colunista, ali então debutando como pacer (marcador de ritmo).

“Corri e caminhei por 4h45min com a coxa toda enfaixada devido a uma contratura na região posterior. Meu maior medo era que dali a uma semana eu ia correr a maratona de Nova York, e essa eu não perderia. Meu fisioterapeuta diz que sou quem melhor se recupera de lesão de forma ativa.”


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