quinta-feira 4, dezembro, 2025 - 18:21

Saúde

Quando a política parece distante, as conspirações aumentam

Já escrevi antes sobre pesquisas que mostram que quando a ciência parece distante, as p

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Já escrevi antes sobre pesquisas que mostram que quando a ciência parece distante, as pessoas ficam mais propensas a duvidar dela, desconfiar de instituições científicase recorrem a narrativas familiares, mas às vezes imprecisas. A notícia encorajadora desse trabalho é que mesmo pequenos passos para reduzir esta sensação de distância podem aumentar a confiança, fazer com que a ciência se sinta mais relevante e abrir as pessoas à evidência.

Um novo estudo mostra que um processo semelhante está em ação na política. Quanto mais distantes as pessoas se sentem da vida política, mais vulneráveis ​​ficam às teorias da conspiração. Distância psicológica é a sensação de que algo “não é sobre pessoas como eu” ou “não faz parte do meu mundo”. Na ciência, essa distância pode assemelhar-se à imaginação de laboratórios distantes ou de especialistas sem rosto. Em políticapode parecer acreditar que as decisões são tomadas em outro lugar, por pessoas que você nunca conhecerá, sobre questões que não afetam sua vida diária.

Esta nova investigação pega nessa ideia e testa-a directamente no contexto político, e também através de uma experiência concebida para investigar a causalidade. Aqui está o que eles encontraram:

O que o estudo descobriu

Nos três estudos, os autores descobriram consistentemente que as pessoas que se sentem politicamente desligadas, que vêem a política como abstracta, dirigida pela elite ou irrelevante, são significativamente mais propensas a apoiar teorias da conspiração.

Estudo 1 (EUA)

Uma amostra dos EUA recrutada nacionalmente mostrou que a distância psicológica em relação à política previa:

  • mentalidade conspiratória geral
  • crença em teorias de conspiração política específicas

Estes efeitos permaneceram mesmo após o controlo da demografia e da filiação partidária.

Estudo 2 (Reino Unido)

Os resultados foram replicados numa amostra do Reino Unido e permaneceram robustos mesmo após o controlo de:

Estas variáveis ​​já são fortes preditores do pensamento conspiratório, mas a distância psicológica ainda explica um efeito único. Sentir-se fora de contato com a política acrescenta algo novo aos preditores existentes.

Estudo 3: A Evidência Causal

Este estudo é onde as coisas ficam especialmente interessantes e é por isso que quis escrever sobre este artigo. Para testar se a distância psicológica causas crenças conspiratórias, os pesquisadores criaram um país democrático fictício e designaram aleatoriamente os participantes para ler uma das duas descrições políticas:

  • Condição de fechamento: A política faz parte da vida quotidiana, os líderes são acessíveis e as decisões afectam claramente as comunidades locais.
  • Condição distante: A política parece remota, os líderes são de elite e inacessíveis e as decisões parecem abstratas e irrelevantes.

Os participantes não apenas leram uma breve descrição – eles também:

  • Imaginaram-se como cidadãos deste país fictício
  • Escreveu um resumo explicando como os cidadãos percebem a política lá

Estas medidas ajudaram a solidificar a manipulação e garantiram que os participantes internalizassem a ideia de política próxima ou distante. Os resultados mostraram que os participantes na condição “política próxima” demonstraram significativamente menor mentalidade conspiratória do que aqueles na condição “distante”.

Eles também relataram:

  • Menos cinismo político
  • Menos impotência
  • Mais conexão com a vida política

Tudo isto surgiu de uma breve sugestão que simplesmente lhes pedia que imaginassem um sistema político onde tivessem voz.

Por que isso é importante e como preencher a lacuna

Estas descobertas ecoam um tema que já discuti antes: quando os sistemas parecem distantes, as pessoas preenchem a lacuna com narrativas alternativas, muitas vezes conspiratórios. Não se trata apenas de desconfiança, desinformação ou polarização. É também uma questão de desconexão, e a desconexão é algo que podemos mudar.

A distância psicológica cria um vácuo e as teorias da conspiração rapidamente surgem para preenchê-lo. Este padrão reflete o que vemos no mundo real, onde muitas pessoas se sentem alienadas das principais instituições, consideram as decisões opacas ou controladas pelas elites e consideram os processos políticos irrelevantes para as suas vidas quotidianas. Nesse ambiente, as explicações conspiratórias podem parecer mais naturais e intuitivas.

Leituras essenciais de teorias da conspiração

Tal como aproximar a ciência, tornando-a local, relevante e participativa, pode ajudar a reconstruir a confiança, esta investigação sugere que aproximar a política também pode reduzir as visões do mundo conspiratórias. Não se trata de forçar as pessoas a concordar. Trata-se de tornar a vida política mais acessível, mais identificável e mais ligada às preocupações quotidianas.

A confiança aumenta quando as pessoas se sentem vistas e as crenças conspiratórias diminuem quando as pessoas se sentem incluídas. As pessoas endossam teorias da conspiração não apenas porque desconfiam das instituições, mas também porque se sentem psicologicamente distantes delas. A solução não é apenas corrigir a desinformação; é reduzir essa distância, emocional, social e psicologicamente.

Seja na ciência, na política ou em qualquer instituição que molde a vida pública, a lição é a mesma: se queremos confiança, temos de aproximar o sistema. Não apenas por meio de explicação, mas por meio de conexão genuína.

Esta postagem também aparece em Misguided: The Newsletter.



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