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Esporte

Flamengo e Palmeiras estão cada vez mais à frente dos outros – 26/11/2025 – Marcelo Bechler

Em 2008, o atual CEO do Manchester City e ex-diretor do Barcelona, Ferran Soriano, lanço

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Em 2008, o atual CEO do Manchester City e ex-diretor do Barcelona, Ferran Soriano, lançou o livro “A Bola Não Entra por Acaso“. Nele, o catalão traça a necessidade de minimizar erros no futebol, especialmente fora de campo, para tentar controlar resultados de um esporte sem controle.

Pois Palmeiras e Flamengo têm suas doses de sorte e azar. No entanto, aumentam cada vez mais, via planejamento, sua distância para os outros. O longo prazo mostra como a final de sábado colocará frente a frente os melhores clubes do século, em busca do tetracampeonato inédito da Libertadores para o Brasil.

Em 2015, Atlético Nacional, da Colômbia, e Independiente del Valle, do Equador, fizeram a final. Lembro que naquele ano debatíamos o absurdo de um país como o Brasil não ter representantes na decisão —enquanto clubes mais modestos, porém organizados, chegavam lá.

Dez anos depois, tudo mudou. O futebol brasileiro se tornou o que esperávamos que ele fosse: dominante técnica e financeiramente na América. Os clubes brasileiros aprenderam a ganhar dinheiro fidelizando torcedores, negociando melhores acordos de televisão e patrocínio (a presença das bets deu um boom neste quesito). E Palmeiras e Flamengo, além de aprenderem a ganhar, aprenderam a gastar muito bem.

Vamos de números para ter noção do que aconteceu. De acordo com o relatório Convocados, da Galapagos Capital, a receita dos clubes da Série A dobrou em dez anos, saindo de R$ 5,2 bilhões em 2015 para R$ 10,2 bilhões em 2024.

A média de público da primeira divisão também acompanha o crescimento: das seis maiores da história, cinco delas são as mais recentes (excluindo 2020 e 2021, por conta dos jogos sem público na pandemia).

Aumentamos a nossa receita, o torcedor passou a ir mais para o estádio. O Brasil é capaz de pescar talentos na América do Sul e paga salários altíssimos para manter bons jogadores por mais tempo no país e atrair quem está fora. Jorginho, Saul, Vitor Roque e Andreas Pereira acabaram de chegar para reforçar os finalistas.

A distância para os competidores sul-americanos, em poderio econômico, é imensa. Os seis argentinos que disputaram a Libertadores em 2025 têm, segundo o site Capology, especialista em finanças, uma média anual de salários de R$ 93,4 milhões por clube. A média dos sete brasileiros era de R$ 185,7 milhões. O dobro. E Palmeiras e Flamengo pagam mais aos seus elencos que todos os participantes argentinos somados.

Por mais que criticar seja um de nossos esportes favoritos, as coisas estão melhorando por aqui.

Todos esses números servem para mostrar o que a gente vê em campo a cada torneio. Os brasileiros dominaram o continente —enquanto Palmeiras e Flamengo passam uma ou duas marchas a mais. A força não está apenas em ganhar muito dinheiro, porque o Corinthians também é capaz de ganhar mais de R$ 1 bilhão por ano e trazer Memphis com um “salário europeu”. O segredo é saber também como gastar.

Para a bola não entrar por acaso, é preciso reduzir a margem de erro. Ter Memphis em um elenco desequilibrado, por exemplo, não te ajuda em muita coisa.

O que faz Palmeiras e Flamengo chegarem em 2025 à terceira final de cada um em sete anos —e dar a sensação de que já são favoritos para 2026— é saber o que estão fazendo. Saber ganhar dinheiro, saber gastar e ter um departamento de futebol equilibrado os distanciam dos demais.

É um clichê tratar um campeão como modelo. O Botafogo de 2024 tem mais cara de um jogador de roleta tentando a sorte em um cassino do que um gestor planejando a rota mais segura dentro de um esporte tão inseguro. Palmeiras e Flamengo têm a cara desse gestor. Cada um à sua maneira ensina aos outros como competir hoje. O problema é que eles ensinam, mas não esperam. Abrem cada vez mais vantagem e distância para os outros.

No sábado teremos um confronto equilibrado, em que a sorte ou o azar pode ser um fator decisivo. Quando as coisas se igualam, a bola pode, sim, entrar por acaso. No geral, a dupla mostra que não.


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