Pelas semifinais da Libertadores, Flamengo e Palmeiras têm jogos difíceis nesta semana. O Flamengo contra o Racing da Argentina, no Maracanã; o Palmeiras, no Equador, enfrenta a LDU. Existem muitas chances de os dois times brasileiros fazerem a final, em jogo único, em Lima, no Peru.
Como se esperava, Flamengo e Palmeiras, pelo Brasileirão, fizeram uma partida equilibrada, decidida nos detalhes técnicos individuais, nas emoções dos atletas e em alguns fatos inesperados. Como as emoções não são vistas nem medidas, os detalhes emocionais passam despercebidos ou são considerados divagações de românticos analistas.
O exagerado Nelson Rodrigues dizia que quem ganha as partidas é a alma. Não é tanto assim, mas ela é muito importante no resultado e na qualidade do espetáculo. Os impulsos emocionais decidem várias partidas. O jogador faz sem saber por que fez. Assim é também na vida. O saber, às vezes, antecede o pensamento.
Apesar de não dito, existe ainda um preconceito contra o trabalho diário dos psicólogos nos clubes e na seleção. Isso tem mudado, impulsionado por outros esportes, onde os atletas se manifestam mais sobre a importância da saúde mental. Sabem que o corpo necessita de uma mente sadia. O corpo é a sombra da alma.
Antes de dizerem que um atleta passa por um mau momento físico ou técnico, é preciso investigar sua alma. Ansiedade excessiva, depressão e outros distúrbios emocionais são frequentes nos atletas.
Para ser um craque e para formar uma grande equipe, além de talento é essencial gana, perseverança, desejo e controle emocional. Não se pode confundir intensidade, pressão para recuperar a bola e garra para vencer com a prática usual no Brasil de tumultuar, desrespeitar e ofender, condutas que, algumas vezes, são estimuladas por treinadores agressivos e exibicionistas.
Vários analistas e treinadores apaixonados pela ciência esportiva, pelas estatísticas e pelas estratégias abusam de supostas verdades absolutas. Costumam levar o jogo para o livro no lugar de usar o conhecimento para entender os detalhes de cada partida. Cada jogo tem a sua história.
Dias atrás, lembrei-me do médico e amigo Roberto Abdala Moura, falecido há poucos anos. Ele me operou do olho em Houston, EUA, em 1969. Na Copa de 1970, ele esteve presente em todos os jogos da seleção brasileira, convidado pela CBF. Na véspera das partidas, vários jogadores se reuniam —não era obrigatória a presença— para conversar sobre o jogo, futebol ou qualquer assunto. Uma pessoa iniciava o diálogo com algum conceito, pensamento ou história.
Na véspera da final, convidamos o médico Roberto Moura para dizer algo e iniciar o bate-papo. Ele, citando o escritor, filósofo e padre, Antônio Vieira, disse que o contrário da luz não é a escuridão, mas sim uma luz mais forte, pois na escuridão qualquer luz brilha, por menos intensa que seja. Ao lado de uma luz forte, as luzes menores não são detectadas, como que se apagam. Ele completou que a luz da seleção no jogo final seria mais brilhante.
Ficamos mais confiantes, fortes emocionalmente e o time mais brilhante. Isso ajudou a ganhar o título.