Ao ver a lista de 25 convocados por Carlo Ancelotti para a seleção brasileira, para os dois jogos finais das Eliminatórias da Copa de 2026, algumas presenças e outras ausências foram prontamente notadas.
Primeiro, as ausências, de três atacantes bem conhecidos: Neymar (Santos), Vinicius Junior e Rodrygo (ambos Real Madrid).
O italiano explicou a não convocação de Neymar, reconhecidamente o principal jogador do país a partir de 2011, devido a uma lesão (coxa) que ele teve na semana passada. Ou estaria na lista, até porque Carleto diz gostar de ter convívio com os atletas além das quatro linhas –avaliá-los como pessoas–, e ele nunca teve isso com o 10 santista.
Sobre as não inclusões de Rodrygo e Vini Jr., o treinador não falou, mas é fácil chegar a conclusões.
O primeiro, a quem o ex-treinador do Real conhece bem, está em má fase. Não fez um bom primeiro semestre no time espanhol e atualmente luta pela titularidade.
O segundo está suspenso contra o Chile (dia 4 de setembro, uma quinta, no Maracanã) e, como Ancelotti também o conhece bem e o Brasil já está classificado, preferiu não desgastá-lo com uma viagem à altitude boliviana (a partida do dia 9, uma terça, será em El Alto, 4.150 m acima do nível do mar).
Com vagas abertas no ataque, surgiu uma das presenças reparadas: Kaio Jorge, 23, do Cruzeiro, artilheiro do Campeonato Brasileiro. Merecidíssimo. É o melhor jogador em atividade no Brasil.
Faltou Ancelotti abrir uma vaga no meio-campo e incluir Matheus Pereira, entrosadíssimo com o colega. Da Raposa, terá nova chance na seleção o zagueiro Fabrício Bruno, que foi bem no início da era Dorival Júnior.
Porém a presença mais intrigante, eu diria até misteriosa, é a de Douglas Santos, 31. Titular de seleção brasileira campeã olímpica –em agosto de 2016, nove anos atrás, no Rio de Janeiro. E uma única partida pela seleção principal, em maio daquele ano, amistoso contra o Panamá quando o técnico do Brasil ainda era Dunga.
Depois do ouro no Rio, Douglas Santos deixou o Atlético-MG e foi jogar na Europa, no alemão Hamburgo, e desde 2019 defende o Zenit, da Rússia.
Afastados de competições internacionais devido à Guerra da Ucrânia, os times russos só podem disputar campeonatos locais. Ancelotti deve ser um baita fã da Premier League –a russa, que é de segunda linha– para poder dizer como tem sido o desempenho do lateral esquerdo. Afinal, para chamar, tem que ver jogar, várias vezes, certo?
Infelizmente, ninguém na entrevista pós-convocação questionou-o a respeito de Douglas Santos. Todos na sede da Confederação Brasileira de Futebol pareciam fascinados com o português, até agora nível be-a-bá, do “mister”, e mais interessados em saber de Neymar.
Dirão que Douglas Santos tem experiência. Se é isso, há Reinaldo (ex-São Paulo e Grêmio), 35, um dos pilares da surpreendente campanha do Mirassol no Brasileiro, Alex Telles, 32, campeão com o Botafogo da Libertadores-2024 e presente na Copa do Mundo de 2022, e Guilherme Arana, 28, do Galo, que também faturou um ouro olímpico, em Tóquio-2020.
Na verdade, faltam laterais esquerdos top para o Brasil. Não temos um Roberto Carlos, um Marcelo, um Branco. E, se não for dada chance na seleção a alguém diferente, esse alguém não poderá mostrar que é diferente na seleção.
Para não chamar Luciano Juba, Ancelotti, que esteve no domingo (24) em Bahia 2 x 0 Santos e viu o jogador da equipe soteropolitana jogar bem e fazer um belo gol, deve desgostar de laterais muito ofensivos.
O titular de Carleto é Alex Sandro, 34, que se contundiu em Flamengo 8 x 0 Vitória pelo Brasileiro na noite da convocação e talvez seja cortado.
Restam Douglas “Mistério” Santos e o mediano Caio Henrique (Monaco), 28, outro chamado para a posição. Cruzemos os dedos.
