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Esporte

Filho de lenda da Roma pendura chuteiras aos 19 anos – 02/08/2025 – O Mundo É uma Bola

Um dos assuntos em voga no esporte como um todo é a saúde mental de seus praticantes. T

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Um dos assuntos em voga no esporte como um todo é a saúde mental de seus praticantes. Tema sensível, já que é difícil medir o bem-estar de cada atleta, pois cada um reage de forma diferente à pressão psicológica.

Essa pressão, criada pela cobrança por desempenho melhor a cada dia e por corresponder adequadamente às expectativas, pode ser interna ou externa, ou ambas.

O caso para análise aqui é o de Cristian Totti. Nesta semana, o jovem de 19 anos anunciou que estava encerrando a carreira, ainda que ela nem tivesse começado para valer, já que não chegou a se profissionalizar.

Cristian é o primogênito e único filho homem de Francesco Totti, 48, nascido oito meses antes de o pai se tornar campeão mundial com a Itália na Copa de 2006, na Alemanha, campeonato no qual o camisa 10 da Squadra Azzurra marcou um gol e deu quatro assistências.

Totti é o maior ídolo da história da Roma, seu único clube (1992 a 2017), tendo marcado mais de 300 gols em quase 800 partidas. Seus torcedores o consideram uma lenda e o chamam de “O Capitão” –corretíssimo, porque ninguém ostentou, em um clube renomado, a tarja por tanto tempo quanto ele.

Cristian cresceu na capital italiana, em um ambiente que respirava futebol, e naturalmente quis seguir os passos do pai.

Meio-campista, começou nas categorias de base de Roma, aos 12 anos, permanecendo até os 18. Não rendeu o suficiente para se firmar, jogando poucas partidas.

Transferiu-se sucessivamente, a partir de 2023, para Frosinone (Itália), Rayo Vallecano (Espanha), Avezzano (Itália) e Olbia (Itália), os dois últimos da quarta divisão. Sempre com passagens curtas, teve igualmente poucos minutos em campo nos campeonatos.

Vendo que a carreira não progredia mesmo em divisões modestas, desistiu.

“Deu! Estou largando o futebol. Não vou dizer além disso, mas me aposentei”, afirmou ao jornal La Nuova Sardegna. O Olbia, da cidade de mesmo nome e último time de Cristian, fica na ilha da Sardenha.

Como ele não quis expor suas razões, houve quem expusesse por ele, responsabilizando o sobrenome famoso.

Caso de Sabrina Uccello, jornalista italiana que escreve para o diário espanhol AS. “Seu pai é um imperador indiscutível. Muita pressão em cima, gerando um efeito inevitável: o desejo de uma profissão e de um futuro longe dos gramados”.

O próprio Totti, em abril deste ano, reconheceu no portal Siamo la Roma (Somos a Roma) que a situação do filho não estava confortável. “Acontece de algumas pessoas não conseguirem chegar ao topo. Meu filho adora jogar futebol, mas infelizmente tem que carregar o peso do nosso sobrenome.”

Cristian sofreu com críticas pesadas nas redes sociais, que incluíram não apenas as performances abaixo do imaginado mas reprovação ao seu peso, que estaria, conforme os “haters”, acima do ideal. Com 1,85 m, houve rumores de que ele chegou a pesar 90 kg.

Para Marco Amelia, técnico do Olbia, Cristian sempre esteve tão em forma quanto qualquer outro do time. “Ele é grande, não é gordo.”

Amelia, que foi companheiro de Totti na Copa de 2006 (era o terceiro goleiro da Itália), afirmava que via potencial para Cristian jogar nas séries B ou C. “Mas o sobrenome do pai pesava nele”, reconheceu.

É o segundo caso de filho de uma estrela do futebol que abdicou de seguir adiante em menos de um ano. Em setembro de 2024, o francês Enzo Zidane pendurou as chuteiras aos 29 anos depois de rodar por times pequenos de Espanha, França e Portugal.

Meio-campista como o pai ilustre (Zinédine Zidane, campeão na Copa de 1998 e vice na de 2006, um dos melhores futebolistas da história), relatou ter se cansado das constantes comparações, que lhe provocaram desgaste mental.

No Brasil, lembro-me bem da expectativa gerada ano após ano, da imprensa e da torcida, em torno de Edinho, filho do maior de todos, Pelé, que jogava no gol e foi titular do Santos, sem grande sucesso, nos anos 1990. Pendurou as luvas aos 28 anos.

Teve também Rivaldinho, filho de Rivaldo (campeão na Copa de 2002). Teve é modo de dizer, já que encerrará a carreira sem reluzir. Aos 30 anos, ainda joga (é atacante), porém sem nunca ter conseguido mostrar o mínimo para estar em um time grande. Desfila atualmente seu futebol mediano nos gramados chineses.

Enfim, me parece certo que todo filho de um figurão do futebol que optou por fazer o mesmo tenha, em muitos momentos, sentido desconforto quando, querendo que o sol o ilumine, a enorme sombra do pai persistia em encobri-lo.

Um incômodo que pode virar tormento e crescer até se tornar insuportável de tão intenso. Foi o caso de Cristian Totti.



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