sábado 2, agosto, 2025 - 6:12

Esporte

João Fonseca e nossos desejos imediatistas – 01/08/2025 – Marina Izidro

Como era sua vida profissional aos 18 anos de idade? Eu estava na faculdade de jornalismo

image_printImprimir


Como era sua vida profissional aos 18 anos de idade?

Eu estava na faculdade de jornalismo e queria –apenas– ser apresentadora do Jornal Nacional. Só que ninguém na minha família era jornalista, eu não tinha “padrinhos” ou “quem indica”. Olhava a profissão com doses de admiração, sonhos e dúvidas sobre o que realmente aconteceria.

Quem não nasceu herdeiro e com a opção de trabalhar na empresa da família talvez tivesse um pensamento parecido ao entrar na fase adulta, ou ainda mais inseguranças.

Atletas são diferentes. Começam a competir na infância, amadurecem cedo, iniciam antes de nós uma carreira que também é mais curta.

O sucesso os leva a uma vida profissional diante dos olhos do mundo, e é do jogo. Mas não é porque são pessoas públicas que são obrigadas a ouvir desaforos.

Acho triste ver e ler críticas recentes sobre o tenista João Fonseca. Há poucos meses, era o menino de ouro do Brasil; agora, não serve mais?

Vi um conhecido ficar impaciente quando João, estreante, perdeu na terceira rodada de Wimbledon, aqui em Londres. Não entendo como teve gente que perdeu tempo de vida para entrar em sua conta do Instagram e atacá-lo quando ele foi eliminado na estreia no Masters 1000 de Toronto.

Além de talento, dedicação, sorte, virar atleta profissional demanda muito dinheiro. Ainda mais no Brasil, que desperdiça talentos por causa de políticas públicas que não valorizam o esporte.

Tirando modalidades populares como futebol, vôlei, judô, vivemos de ídolos esparsos. A cada tantos anos surge uma Rebeca Andrade, um João Fonseca, um Isaquias Queiroz, uma Ana Marcela Cunha, uma Bia Haddad.

Quando acontece, a empolgação de torcer pelos nossos às vezes é atropelada pelo fato de vivermos em uma sociedade imediatista. A paciência está curta, há quem ache que precisa ter opinião sobre tudo, mesmo não entendendo nada sobre o que critica. Redes sociais transformam heróis em fracassados em segundos. Invadir o perfil de um atleta ou de adversários de brasileiros para xingá-los não tem nada de engraçado, é falta de educação. Fazer isso ao vivo em uma partida, nem se fala.

Além de cruéis, essas atitudes demostram ignorância porque não levam em conta pontos fundamentais no esporte: a maioria perde mais do que ganha; o adversário pode ser melhor e mais preparado do que o atleta para quem se torce.

Em janeiro, pouco depois que o tenista estourou, escrevi uma coluna intitulada “João Fonseca não tem obrigação de ser o que o Brasil tem de bom“. Defendia que o sucesso esportivo dos brasileiros traz orgulho e é parte da construção da nossa identidade nacional; mas, às vezes, projetamos exageradamente no outro expectativas que na verdade fazem parte do ideal de sucesso que gostaríamos para nós. Dependemos de feitos de outras pessoas para dar valor ao nosso país.

Esta coluna não é só sobre o João, até porque esse tipo de comportamento não é direcionado apenas a ele. Para quem prefere a impaciência, a falta de educação ou os xingamentos, pode ter a certeza de que ninguém tem mais vontade de ganhar do que o próprio atleta. É assim que você trataria seu filho ou filha adolescente? Ou é como você gostaria de ter sido tratado ao começar a vida profissional? Um pouco de empatia não faz mal a ninguém.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Fonte da Notícia

Leave A Comment