Há em torno de competições esportivas algumas explicações mais para o folclore que para a realidade.
Azar é a palavra frequentemente utilizada para explicar certas derrotas, embora falta de frieza e ansiedade, sejam as adequadas.
Durante quase 23 anos o Corinthians não venceu sequer o Campeonato Paulista.
Perdeu títulos de maneira incrível.
O Corinthians consagrava goleiros de times pequenos, as traves eram eternas inimigas, além, é claro do Rei Pelé, Ademir da Guia etc.
Até a morte de dois jogadores, o lateral-direito Lidu e o ponta-esquerda Eduardo, em acidente automobilístico quando o time liderava o campeonato, traumatizou o elenco e, aí sim, o futebol é insuficiente para explicar os mistérios da vida e da morte.
Invariavelmente o time falhava na hora agá e as desculpas se avolumavam, árbitros eram responsabilizados, chuvas fora de hora, o diabo a quatro.
Até psiquiatras o Corinthians contratou no período de seca de títulos. Para não falar de macumbeiros.
O que faltava mesmo era calma, cabeça, na hora de decidir.
Bastou ganhar em 1977 para passar a acumular taças de todos os tipos a ponto de só faltar a Sul-Americana, de importância menor.
O poderoso New York Knicks jejua na NBA desde 1973 e coleciona explicações surrealistas para justificar mais de meio século sem título.
Agora mesmo há quem procure explicar por que João Fonseca tem perdido jogos por detalhes, perdido pontos decisivos aparentemente dele etc.
Ora, aos 18 anos, ele tem enfrentado tenistas muito mais experientes, mais cascudos, habituados com momentos decisivos, prática que, obviamente, o brasileiro ainda não tem.
Falhas de Marcos contra o Manchester United e de Weverton contra o Chelsea, pênaltis de Luan contra o Tigres e Chelsea, nada acontece por acaso de um lado e deixa de acontecer do outro.
Um erro traumatiza, gerações se sucedem e mesmo inconscientemente trazem o peso de insucessos anteriores.
Até o dia em que a conquista acontece e tudo volta ao normal.
O que era possível fazer para tirar o peso da busca do Mundial inédito para o Palmeiras foi feito.
Abel Ferreira até mudou de estilo para paz e amor, além da preparação adequada e luxuosa proporcionada pelo clube.
Dai Gustavo Gómez e Piquerez recebem cartões amarelos desnecessários que os suspendem, a cirurgia de Paulinho não dá certo e, francamente, o time decepciona em quatro dos cinco jogos que disputou, ao se comportar bem mesmo apenas no clássico doméstico com o Botafogo.
Até eliminar o campeão da Libertadores teve peso menor por ter sido em embate nacional.
Outro efeito teria se o campeão continental fosse o River Plate, o Boca Juniors, enfim.
Por enquanto o palmeirense terá de conviver com as vitórias no ambiente caseiro e com as gozações inevitáveis dos rivais —como a que dá direito a Abel Ferreira pedir música no Fantástico pela terceira derrota seguida em Mundiais. Faz parte.
O que não faz parte ou, ao menos, não deveria fazer, é o radicalismo dos fanáticos ao pedir a cabeça do treinador português, o mais vitorioso de todos que passaram pelo clube.
Se perder para o Tigres, de fato, não estava no programa, as derrotas para o Chelsea não envergonham ninguém no Planeta Bola.