Mais brasileiros apoiam do que reprovam a seleção brasileira ser comandada por um técnico estrangeiro. É a primeira vez que a rejeição foi superada desde que o Datafolha passou a fazer pesquisas sobre o tema, em 2019. De acordo com o instituto, 52% são favoráveis a um profissional de fora do Brasil no cargo, e 31% são contra a equipe canarinho não ser dirigida por um profissional do país.
O Datafolha ouviu 2.004 pessoas em todo Brasil, com 16 anos ou mais, distribuídas em 136 municípios. A pesquisa foi realizada nos dias 10 e 11 de junho de 2025. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Todos os entrevistados estavam cientes sobre o fato de o time nacional ter atualmente um italiano como treinador, pois o nome de Carlo Ancelotti estava presente no enunciado do questionário. Do total, 12% se declararam indiferentes, e 5% não souberam responder.
Já havia nos últimos anos uma tendência de queda na rejeição, conforme apontavam os levantamentos mais recentes. Em dezembro de 2022, pouco depois da Copa do Mundo no Qatar, quando o Brasil caiu nas quartas de final, 41% eram favoráveis à contratação de um profissional de fora, e 48% se manifestaram de forma contrária à ideia.
O resultado apresentava uma variação significativa em relação à pesquisa anterior, realizada em julho do mesmo ano, com a mesma margem de erro. Na ocasião, havia 30% a favor e 55% contra.
A mudança no humor dos brasileiros sobre o tema já refletia o fracasso no Mundial de 2022 e a queda na avaliação positiva de Tite, responsável por comandar a equipe nacional nas duas últimas Copas, ambas com o mesmo desempenho.
O levantamento mais recente mostra que a rejeição aos estrangeiros mudou mais significativamente entre os homens, que são mais favoráveis do que as mulheres, com 61% a favor entre eles e 42% a favor entre elas. No estrato por gênero, a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Também é possível apontar que os jovens são aqueles que mais apoiam profissionais de fora do país no cargo. Dentro da faixa etária de 16 a 24 anos, 59% são a favor, e 25% são contra. Na faixa seguinte, de 25 a 44 anos, novamente 59% são a favor, e 23% são contra.
Apenas na faixa etária de 60 anos ou mais há um empate técnico, embora os favoráveis ainda apareçam numericamente à frente, com 41% a favor e 40% contra. No estrato por idade, a margem de erro é de cinco pontos percentuais para mais ou para menos.
Não se observa diferenças significativas entre aqueles que declaram ter votado em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na última eleição presidencial, em 2022. Entre os eleitores do petista, 51% são a favor de um estrangeiro à frente da seleção, e 33% se declaram contra. Entre aqueles que votaram no ex-presidente, 52% são a favor, e 31% rejeitam um técnico de fora do país no cargo.
Como a margem de erro para esse estrato é de três pontos percentuais para eleitores de Lula, para mais ou para menos, e quatro pontos percentuais para eleitores de Bolsonaro, os números são bastante semelhantes.
O levantamento foi realizado cerca de um mês após a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) ter anunciado a contratação de Ancelotti. E também já ocorreu sob a influência de sua estreia à frente da equipe, ocorrida no último dia 5, quando o Brasil empatou com o Equador por 0 a 0, pelas Eliminatórias.
No dia 10, quando as entrevistas começaram a ser feitas, a equipe canarinho venceu o Paraguai por 1 a 0 e selou sua classificação à Copa do Mundo de 2026 depois de uma jornada conturbada no classificatório, marcada por troca de técnicos e problemas fora de campo, ligados à turbulência na gestão da CBF.
Desde a última Copa do Mundo, no Qatar, quando Tite se despediu da seleção, quatro técnicos ocuparam o cargo, entre efetivos e interinos.
Ramon Menezes, emprestado da seleção sub-20, e Fernando Diniz, dividido com o Fluminense na época em que comandava o clube, assumiram interinamente, sem conseguir entregar os resultados esperados. Com a dupla, o Brasil acumulou cinco derrotas, três vitórias e um empate, com aproveitamento de apenas 37%, um dos piores da história.
Diniz assumiu o cargo em julho de 2023. A ideia do então presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, era usar o treinador como tampão por um ano, à espera de Carlo Ancelotti, ainda sob contrato com o Real Madrid.
Nesse período, o dirigente foi alvo de seu primeiro afastamento da presidência. Em dezembro de 2023, ao retomar o cargo, ele demitiu o treinador do Fluminense e, com o italiano renovando seu vínculo com o time espanhol, teve que apostar em uma solução caseira. Dorival Júnior, à época no São Paulo, foi o escolhido.
Em seu período à frente do Brasil, Dorival acumulou 7 vitórias, 7 empates e 2 derrotas em 16 partidas. Sua saída acabou selada após a desastrosa atuação contra a Argentina, com derrota por 4 a 1 pelas Eliminatórias.
Com seu cargo novamente ameaçado por disputas judiciais —ele foi afastado definitivamente em meio, e Samir Xaud foi eleito em seguida—, Ednaldo voltou a apostar na contratação de Ancelotti para tentar se manter na presidência. E investiu alto para isso. Ofereceu ao italiano um contrato com salário mensal de cerca de R$ 5 milhões. A CBF também apostava no desgaste da relação dele com o Real Madrid, após uma temporada sem títulos.
Depois de idas e vindas, o técnico se tornou, no dia 12 de maio, o quarto estrangeiro a assumir a seleção, no último ato de Ednaldo na presidência —no dia da apresentação do treinador, Xaud já era o presidente.
Além de Ancelotti, compõem a lista de estrangeiros que dirigiram a seleção brasileira o uruguaio Ramón Platero, o português Joreca e o argentino Filpo Núñez. O trio totaliza apenas sete partidas no comando do Brasil, com cinco vitórias, um empate e uma derrota.