Se me perguntassem no começo do Campeonato Brasileiro, no fim de março, o que eu esperaria do Mirassol, clube do interior paulista calouro na Série A, a resposta seria: luta acirrada contra o rebaixamento.
Por quê? Por contar com o grupo de jogadores com o menor valor de mercado, por não ter nenhum craque no elenco, por não estar acostumado a enfrentar, a nível nacional, os clubes mais poderosos.
Passados quatro meses, perto do final do primeiro turno do campeonato, a equipe que veste amarelo ocupa a sétima colocação entre as 20 participantes.
Quem, entre os jornalistas esportivos, não estiver surpreso certamente está mentindo. Duvido que até os torcedores mirassolenses mais roxos acreditassem em campanha assim tão positiva.
Como um time de uma cidade com cerca de 65 mil habitantes poderia competir com outros de megalópoles como São Paulo (11,5 milhões), Rio de Janeiro (6,2 milhões), Salvador (2,4 milhões), Belo Horizonte (2,3 milhões), Porto Alegre (1,3 milhão)?
Como um time que tem como principais jogadores o desconhecido Danielzinho, 30, meia organizador e capitão, o veterano Reinaldo (ex-São Paulo e Grêmio), 35, lateral-artilheiro, e Walter (eterno reserva de Cássio no Corinthians), 37, além de um plantel de abnegados com nomes como Jemmes, Lucas Ramon, Chico da Costa e Neto Moura, poderia desafiar equipes com Neymar, De Arrascaeta, Memphis Depay, Hulk, Gabigol?
Não tenho o orçamento dos 20 clubes da elite, porém aposto que o do Mirassol é o menor de todos, com alguma folga. Todos os jogadores do time são brasileiros –é o único clube sem um único gringo–, e o elenco vale, segundo o site especializado Transfermarkt, R$ 122,6 milhões, 20º colocado na lista de 20, ponteada pelo Flamengo (R$ 1,38 bilhão).
Seu principal patrocinador é o Guaraná Poty, marca da Poty Cia. de Bebidas, da cidade de Potirendaba, a 49 km de Mirassol e menor que ela (população de 15 mil, que caberia toda no estádio municipal mirassolense, o Campos Maia), ambas na região de São José do Rio Preto, noroeste paulista.
A verba paga pelo guaraná não é conhecida, contudo tenho certeza de que está a um continente de distância do que recebem, de empresas de bet, Flamengo, Palmeiras, Corinthians (R$ 100 milhões para cima por ano) e outros.
Falando em continente, o Mirassol, que jamais disputou uma partida internacional, está confortavelmente na zona de classificação da Copa Sul-Americana e grudado na da Libertadores.
Em 15 partidas, perdeu só duas. Está invicto há oito. Ganhou de Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio. Empatou com Palmeiras, Atlético-MG, Internacional. Tem dois jogos atrasados (Fluminense e Botafogo, devido ao Supermundial de clubes) e, somasse seis pontos neles, estaria em quarto lugar no Brasileiro.
Mesmo assim, o treinador Rafael Guanaes (confesso que nunca ouvira falar dele), 44, mantém o mesmo pensamento do começo do campeonato: o time não regressar para a Segundona. O número mágico para isso, diz, é 45 (pontos). Faltam 20, em 23 jogos.
“Temos que ter cuidado com as expectativas”, disse o admirador de Carlo Ancelotti, Pep Guardiola, Telê Santana e Tite, todos respeitados e vencedores.
Prudência é bom, mas, do jeito que a equipe vai, as expectativas merecem ser alçadas a perspectivas, e das melhores.
O slogan do Guaraná Poty é “Puro Sabor da Vida!”. O Mirassol está vivendo saborosamente o ano de seu centenário e, se for capaz de manter a toada, tem tudo para festejar os 100 anos, no dia 9 de novembro, na mais pura felicidade.