Popó x Wand: culpados têm que ser identificados e punidos – 28/09/2025 – Esporte
Um evento que tinha tudo para promover o esporte, com defesa de cinturão mundial da brasileira Bia Ferreira e duelo entre ouro e bronze olímpicos Hebert Conceição e Yamaguchi Falcão, terminou com caótica briga generalizada envolvendo as equipes do ex-campeão de boxe Acelino Freitas, o Popó, e o ex-campeão de MMA Wanderlei Silva.
O episódio fez lembrar, em plena Globo, na TV aberta e em rede nacional, os tempos sombrios dos primórdios do vale-tudo, precursor do organizado MMA (Mixed Martial Arts), quando grupos rivais de modalidades de lutas protagonizavam brigas, afugentando o público.
Dentro das quatro cordas, o árbitro Reginaldo Peixoto seguiu estritamente o que ditam as regras, ao admoestar Silva por duas vezes por faltas e descontar um ponto como punição por cada vez, recurso que os oficiais têm em mãos para manter a luta sob controle. Finalmente, como dita o regulamento, ao cometer nova infração, Silva teve o terceiro ponto descontado e automaticamente foi desclassificado.
Imediatamente, membros da equipe de Popó, já sobre o ringue, começaram a gritar, apontar na direção do time de Silva, esquentando ainda mais os ânimos. A equipe de Silva subiu ao tablado e, irritado, um integrante do time de Silva investiu contra o grupo rival, o que foi a gota d´água para que se iniciasse uma briga generalizada com dezenas de participantes.
No momento em que o ringue estava totalmente tomado, a Globo buscou poupar a audiência, exibindo uma imagem distante. Mas, na era da informação descentralizada, com informações compartilhadas via redes sociais, quase que instantaneamente já eram abundantes imagens e gravações da briga dos canais que exibiram o evento, como de vários outros ângulos, gravados por câmeras de celulares e compartilhadas pelo público local.
Recebido em um ambiente luxuoso, o público in loco do evento era formado por convidados selecionados cujo “dress code” obedecia a orientação oficial: o black-tie, o que contrastou com a selvageria testemunhada no ringue após o gongo final. Não houve comercialização de ingressos para o público.
É necessário que as imagens disponíveis sejam analisadas e os culpados identificados e punidos, no mínimo na esfera esportiva.
Agressões perpetradas após o encerramento da luta, especialmente o soco com punho nu que atingiu Silva, enquanto aparentemente tentava apartar a briga, vindo de um ponto que não conseguia enxergar ou se defender e que o nocauteou, pôs o ex-astro do Pride em risco.
Pior, a confusão continuou com Silva caído.
O conflito poderia ter escalado, como no Madison Square Garden, em 1996, após outra desqualificação, do polonês Andrew Golota contra o ex-campeão dos pesados Riddick Bowe, que gerou briga envolvendo as equipes dos lutadores e que se alastrou ao público; ou como após Marvin Hagler se tornar campeão na casa do britânico Alan Minter, em 1980, e ter que se proteger de uma chuva de garrafas atiradas no ringue pelo público em Wembley.
Todos saem perdendo com o lastimável episódio da madrugada deste domingo (28).
A briga certamente não contempla o interesse da Spaten, marca de cerveja da Ambev, que utiliza o evento para promover a sua marca.
Tampouco ganharam os atletas em termos de legado esportivo. O título de campeão da Spaten é um instrumento de marketing, cuja relevância limita-se ao universo das competições dentro de seu próprio circuito.
Oficiais de entidades internacionais como a Federação Internacional de Boxe e a Organização Mundial de Boxe, presentes no Brasil para supervisionar os duelos entre Conceição e Falcão e a disputa de título mundial de Bia, mostraram desinteresse no desafio de entretenimento entre Popó e Silva, deixando o local antes de o gongo inicial soar.
Desafios envolvendo influencers, youtubers, subcelebridades e atletas aposentados viraram moda. O mais bem-sucedido é Jake Paul, youtuber que constrói carreira no boxe profissional, e no ano passado tirou Mike Tyson, então com 58 anos, da aposentadoria para enfrentá-lo em um combate milionário.
Esses eventos são extremamente midiáticos, e podem, sim, ser divertidos. Mas a questão é não confundir esporte com entretenimento.