O polêmico mundo das pesquisas – 03/08/2025 – Juca Kfouri
Nas comemorações do centenário de O Globo (e parabéns!), extensa pesquisa sobre tamanho e comportamento das torcidas ocasiona as polêmicas de sempre.
Se pesquisas eleitorais têm sempre o risco do voto envergonhado, as que envolvem a paixão pelo futebol causam mais discussões que concordância.
A do aniversariante jornal carioca, do Ipsos-Ipec, antigo Ibope, não fugiu à regra.
O Flamengo sempre na dianteira é contestado por corintianos que dizem ser terceirizada a torcida rubro-negra.
Mais ainda na atual pesquisa que, se mantém a Fiel em segundo lugar, revela queda de cerca de 3% no total de torcedores.
Algo de fato misterioso porque, como feita apenas entre os maiores de 16 anos, mostra desistência difícil de entender.
A duradoura má fase do time poderia explicar queda no número de novos torcedores, crianças e jovens entre 7 e 16 anos, mas dos já consolidados?
A rara leitora e o raro leitor conhecem alguém que tenha desistido de seu time de coração?
Os palmeirenses voltam a ser a terceira maior massa, ao ultrapassar os inconformados são-paulinos, e o Vasco permanece em quinto lugar, algo que os cariocas jamais aceitaram ou aceitam.
O Fluminense ter menos torcida que o Sport é outro dado surpreendente, desses que fazem também os tricolores cariocas preferirem quebrar o termômetro.
A exemplo da histórica hegemonia flamenguista, o número que se consolida cada vez mais é o que está em primeiro lugar, acima da Nação: o contingente dos que dizem não se interessar por futebol, mais de 32% —11% a mais que o de rubro-negros.
É assim desde que a revista Placar fez, com o Instituto Gallup, a pioneira pesquisa do gênero, em 1971.
O que desmente nosso permanente autoengano de chamar o Brasil de país do futebol.
Foi, isso sim, e por meio século, entre o fim da década de 1950 e a primeira década do século 21, o país do jogo bonito, a terra dos melhores jogadores do mundo.
De Didi a Ronaldinho Gaúcho, passando por Mané Garrincha, Romário, Ronaldo Fenômeno, Rivaldo e, é claro, Ele, o Rei Pelé.
(Assim como, também é óbvio, Ela, a Rainha Marta, que acaba de dar o eneacampeonato da Copa América à seleção.)
Se mexer com paixões futebolísticas causa incompreensões insanáveis, as pesquisas que medem preferências políticas não ficam atrás.
Veja a atual do Datafolha.
Lula ganharia a eleição de qualquer candidato disposto a concorrer com ele no primeiro turno.
No segundo, contra Bolsonaro, venceria por 47% a 43%. Contra os outros membros da famiglia a diferença aumenta substancialmente.
No entanto, o governo é desaprovado por 40% e aprovado só por 29%. Não é curioso? Ou culpa do Centrão?
Confesso, envergonhado, que nos dois anos do curso de Métodos e Técnicas de Pesquisa na Faculdade de Ciências Sociais fugia quanto podia das aulas e tive a sorte da ajuda de colega que cursava simultaneamente a Faculdade de Engenharia, mão na roda na apresentação dos trabalhos finais.
Ele fazia o trabalho pesado, e eu fazia companhia.
De resto, que maravilha a reação do STF às ameaças do pretendente a imperador do mundo que, mesmo de cabeça para baixo, enfrenta o doidivanas inquilino da Casa Branca.
Que o senhorio da cidadania o expulse de lá.
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