Maior corredor do Brasil inicia novo desafio, agora na Transamazônica – 15/09/2025 – No Corre
São 4.200 km, que ele pretende correr em pouco mais de três meses, a começar na segunda-feira (22). O esforço, cerca de uma maratona por dia, nem é tão descabido, posto o currículo de desafios anteriores do paulista Carlos Dias, 52, o Carlão.
Casca é serem esses 4.200 km inteiramente da BR-230, a mítica, problemática, isolada, insegura, distópica e desnecessária rodovia Transamazônica. O início é no extremo oeste da estrada, em Lábrea, o máximo a que se conseguiu sangrar a floresta no Amazonas; a chegada, em Cabedelo, no litoral da Paraíba. Eis a caravana rolidei de um homem só.
Carlão já atravessou duas vezes a extensão do Brasil a correr, a última delas de Chuí (RS) a Pacaraima (RR), o extremo norte do país, na divisa com a Venezuela; cruzou desertos pelo mundo e enfrentou os rigores da Antártida. Houve muitos outros desafios. Parte de sua história já foi contada aqui, na fase anal desta coluna, se é que dela saímos.
O que leva um sujeito a enfrentar de tempos em tempos essas epopeias é a pergunta, ociosa, que repetidamente lhe faço. “Esse é meu trabalho”, diz. “Se eu ficasse parado, não agregaria mais história à minha História.”
Essas histórias de certa forma se transformam em dinheiro, à quente, com as palestras motivacionais que ele vai arranjando pelo caminho, com ajuda de conhecidos locais e como resultado das entrevistas a jornalistas das cidades por onde passa.
Depois, em São Paulo, o desafio agora cumprido lhe abastece com novo material para outro ciclo de palestras, enquanto a próxima jornada ainda não é desenhada.
Dito assim, parece fácil.
Carlão lança mão de sessões dirigidas de fisioterapia antes de viajar, carrega alguma suplementação de glutamina e tem notáveis deltoides que lhe devem aliviar muito o peso da mochila, mas se há uma lição que um corredor amador de dimensões e pretensões mais modestas pode tirar de seus desafios é que sí, se puede.
Sim, se pode correr uma maratona –algo que, não canso de repetir aqui, é um mero fetiche numérico, travestido de atividade física. A partir do momento em que se ganha algum conforto no ritmo, a exigência da distância torna-se menor;
Sim, se pode correr uma sequência de maratonas, o que talvez já comece a exigir uma contrapartida nutricional maior e um conhecimento melhor do corpo;
E sim, se pode ambicionar uma vida menos previsível, ou, como gosta de dizer Carlão, mais “protagonista”. Há riscos envolvidos, como os há também para quem passa os dias a assinar papéis. É preciso lidar com eles e superá-los.
Na autobiografia feita às próprias custas, “Além dos Extremos”, Carlão narra o desdém de seus próprios colegas de trabalho quando colocou na cabeça, em 1998, que iria correr os 89 km da então ainda não tão famosa ultramaratona sul-africana Comrades.
“Um dia que alguns diretores se aproximaram e falaram que iriam me ajudar [financeiramente], acendeu uma esperança dentro de mim, e, para a minha frustração, me deram um guia de rua de São Paulo, com a rua África do Sul, em Santo Amaro, grifada com marca-texto, dois passes de vale-transporte e um [cartão de] Ticket Restaurante.”
É possível contribuir com a jornada do Carlão pelo site carlosdiasalemdosextremos.blogspot.com. Parte do que arrecada é destinado ao Graacc, o hospital-referência no tratamento do câncer da criança e do adolescente.
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