Do vôlei ao pega-pega, investidores estão apostando em esportes de nicho – 10/09/2025 – Esporte


Em uma arena pouco iluminada em Londres, a multidão faz a contagem regressiva a partir de 20. Dois atletas se agacham dentro de um labirinto de barras e rampas, esperando pelo sinal sonoro. Um irá perseguir, o outro tentará escapar. Este é o “World Chase Tag”, uma liga profissional que transformou uma brincadeira de infância em um espetáculo, completo com árbitros, patrocinadores e acordos de televisão. Atraiu milhões de espectadores e fechou acordos de transmissão com a ESPN nos Estados Unidos e o Channel 4 na Grã-Bretanha.

O pega-pega não é o único esporte marginal a encontrar apoio sério. Em junho passado, a ESPN adquiriu uma participação minoritária na Premier Lacrosse League e transmitirá suas partidas até 2030. A CVC, um gigante de private equity, investiu US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) para criar a Volleyball World, uma joint venture com a Federação Internacional de Voleibol que gerencia as operações comerciais do esporte; o acordo ajudou a aumentar o público da Liga das Nações de Vôlei em 42% no ano passado, chegando a dois bilhões de visualizações.

O boom se deve em grande parte à pandemia de Covid-19. Quando as ligas convencionais fecharam, o público confinado devorou quaisquer competições que restaram. Após a covid, a demanda reprimida por entretenimento presencial aumentou o público: há dois anos, uma partida de vôlei em Nebraska atraiu 92 mil fãs, um recorde para o esporte feminino.

O streaming impulsionou esse crescimento. Na era da radiodifusão, as maiores ligas monopolizavam o escasso tempo de transmissão. Atualmente, plataformas como Netflix e Disney+ têm programações ilimitadas e alcance global, dando espaço para o crescimento de esportes menores. Essa tendência é visível em outros cantos da internet: o streaming proporcionou distribuição mundial para variedades de conteúdo de nicho, ajudando gêneros locais como o K-pop a construir bases de fãs globais.

Enquanto isso, o aumento vertiginoso no valor das franquias consolidou o esporte como uma classe de ativos. Empresas de private equity representaram 45% dos negócios no setor esportivo em 2024, com o número de transações quase dobrando em relação ao ano anterior, segundo a consultoria Oaklin. No entanto, a entrada no topo é escassa: participações em mega-franquias como a NFL (National Football League) ou a NBA (National Basketball Association) dos Estados Unidos raramente são colocadas à venda. Isso direciona o capital para ligas menores.

“Esportes de nicho oferecem aos investidores uma porta de entrada”, diz Avery Wright, da consultoria Navigate. Ao apoiar competições desde o início, os investidores constroem a credibilidade e a experiência necessárias para quando franquias estabelecidas eventualmente se abrirem para novo capital. Para fundos que já possuem ativos nas grandes ligas, as ligas menores oferecem diversificação e uma chance de aplicar sua expertise. A Qatar Sports Investments, proprietária do time de futebol Paris Saint-Germain, comprou o World Padel Tour em 2023 e desde então tem ajudado a construir um circuito global.

As novidades são projetadas para alcançar públicos jovens. Esportes estabelecidos como tênis e golfe estão lidando com bases de fãs envelhecidas. Livres de regulamentos tradicionais, os recém-chegados podem projetar seus produtos para atender nativos digitais com curtos períodos de atenção. A TGL, uma liga de golfe fundada por Tiger Woods e Rory McIlroy que realiza competições em arenas cobertas com simuladores de computador, atrai públicos 12 anos mais jovens que o PGA Tour, o principal circuito de golfe, e tem o segundo público mais jovem da ESPN entre as principais ligas esportivas. A King’s League, um torneio de futebol cinco contra cinco fundado na Espanha em 2022, mantém os fãs engajados permitindo que votem online por mudanças nas regras. Muitas dessas competições parecem mais festivais do que partidas. Ugo Valensi, diretor executivo da Volleyball World, diz que a atmosfera festiva em seus eventos atrai públicos mais jovens.

A grande questão é como monetizar toda essa nova atenção. Ligas menores dependem das mesmas três fontes de receita que os gigantes: direitos de mídia; patrocínios; e venda de ingressos e mercadorias. Mas a combinação varia. Enquanto cerca de metade da receita da NFL vem de emissoras, algumas ligas de nicho cobram pouco ou nada pelos direitos de mídia, preferindo maximizar a exposição. As redes sociais são cruciais: clipes virais no TikTok ou Instagram podem rapidamente se traduzir em vendas de camisas.

O risco é que apenas um punhado de novas ligas conseguirá capturar atenção constante. Em alguns esportes, a corrida de capital gerou caos, com ligas rivais competindo pela mesma fatia de fãs. O pickleball chegou a ter três circuitos “oficiais” nos Estados Unidos, uma confusão que diluiu a atenção e confundiu o público. Outros novatos estão enfrentando dificuldades: no mês passado, o Grand Slam Track, uma nova liga de atletismo, admitiu que estava atrasado no pagamento dos prêmios aos atletas, após não receber o financiamento prometido. No entanto, a chance de apoiar a próxima MLS (Major League Soccer) ou UFC (Ultimate Fighting Championship) oferece a perspectiva de enormes retornos. Por enquanto, isso é suficiente para manter os investidores no jogo.



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